segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Tempus Fugit

Assim como teve início, findou-se.
Um suspiro, resignada estou. Que se há de fazer, minha gente? Nada, eu me respondo. Nada, Verônica.
Ele tem o tempo dele e eu não caibo lá. Insistir? Jamais. O tempo é dele e faz com ele o que quiser. Sou elemento alienígena no cenário dele. Não pertenço a seu tempo e não ocupo nenhum espaço significativo no mundo dele.
Diante desta constatação, saí de cena como entrei, meio de banda.
Quem é que sabe lidar civilizadamente com rejeição? Quem?! Eu é que não.
Percebendo que não seria bem vinda no tempo dele, aquele fogo que eu sentia extinguiu-se. Simples assim.

E eu lhe disse não querendo dizer sim. Usei cada fibra desse corpo para dizer não. Porque esse corpo carrega um espírito cansado dessas batalhas eternamente perdidas entre eu e os homens sem tempo para mim. Ele tem hora marcada, fatia seu tempo e me corta em pedacinhos. Não posso me desfazer assim porque não sei se conseguiria me manter em pé depois de sucumbir ao tempo dele, às vontade e caprichos dele. Ele ele ele sempre ele, tudo ele. Isso é de um egoísmo profundo e, embora essa parte altamente destrutiva de mim queira me jogar nesse vortex Felino e Cigano de sorriso que - porra, que sorriso lindo! - ainda há uma certa sanidade que fala mais alto e me puxa pelas rédeas e me obriga a pensar na bagunça que ninguém irá arrumar, só eu, se tiver forças pra isso.
Ele é um tsunami, esse homem maremoto, destruição, onda gigante que se aproxima de mim com intenção de foder com tudo e ir embora sem olhar pra trás.

Não caibo no tempo dele.

Hora pra começar e terminar como se fosse expediente de repartição pública, consulta médica, horário comercial... Será que é necessário burocratizar tanto assim as relações? Quantificar o tempo a gastar com alguém como se o cronômetro apontasse perda a cada segundo decorrido... É necessário marcar na agenda a próxima sessão, talvez? E, na próxima, contabilizar os sorrisos, os beijos para posterior conferência se tudo ocorreu conforme planejado, tabelado, esquadrinhado?
Tempo gasto, desperdiçado...
O taxímetro rodando... É disso que se trata?
Tic tac tic tac o tempo está passando e você o está perdendo como se perdesse dólares na bolsa de valores?
Tempo gasto, tempo desperdiçado... Tempo é dinheiro? Quanto vale o tempo? Como calcular quanto tempo gastar com alguém? Quanto tempo devem durar as preliminares? Quantas penetrações por minuto são o ideal para garantir que o tempo foi bem empregado? Quantas palavras devem ser ditas a fim de otimizar o tempo gasto com alguém?
O olho nos ponteiros do relógio vigiando o tempo.

Não caibo nesse tempo.

sábado, 23 de novembro de 2013

12 coisas de facebook

1. Sempre me senti indesejada e solitária na casa dos meus pais, desde que consigo me lembrar. Embora tenha tido alguns bons momentos na infância, bloqueei quase tudo. E, talvez por isso, muitas vezes eu não me sinto sossegada em canto nenhum, nem no meu próprio corpo, por isso eu gosto de ficar só. E gosto tanto de dormir pra sonhar.

2. Minha adolescência foi pavorosa e, se não fossem minhas amigas e amigos, teria morrido de tristeza. Eu não sabia o que fazer com nada do que sentia, nem com a raiva, nem com o amor, nem com a tristeza, então comecei a escrever. Eu escrevo sobre tudo o que me incomoda e me alegra, me assusta, me dá prazer. Para mim, escrever é terapêutico, é necessário mais que qualquer outra forma de expressão, até mais do que dançar.

3. Sempre dancei mal e por isso eu gosto de festa escura e com música pra dançar só. Eu danço pra música. Fecho meus olhos míopes pro mundo de olhares julgadores e danço. É minha forma de dizer "foda-se tudo o que me incomoda". Sinto falta de dançar toda semana. Sinto falta de festas em que eu possa dançar a noite todinha e ir embora de manhã, o sol nascendo... Gostava tanto de ver o dia amanhecer depois de uma festa boa.

4. Atualmente, Masturbação é fundamental pra mim. Não consigo ver a relação direta entre amor e sexo e acredito piamente que um exista sem o outro. O ideal é juntar os dois? Vai saber! Quem é que consegue ter qualquer coisa que seja ideal fora do mundo das ideias? Só sei é que eu não vou dizer como as pessoas devem viver e não espero que ninguém venha querer me doutrinar. Aliás, detesto quando tentam me catequisar. Viva o direito ao livre exercício da sexualidade!!! 

5. Eu cultivo toda a minha esquisitice com muito amor. Isso é, provavelmente, a coisa que faço por mim com maior afinco porque é uma forma de manter longe gente xarope. Não gosto que me encarem, não acredito que seja um problema que eu precise corrigir: acredito piamente que ninguém deveria se preocupar em sair de casa e dar de cara com olhos inquisitivos e dedos em riste e palavras hostis. Isso me incomoda muito, mas não deixarei de ser quem me agrada apenas para que pessoas escrotas sintam-se no direito de perturbar quem desvia do padrão boboca.

6. Tenho preconceitos com os quais venho lutando desde que comecei a perceber que eram preconceitos os comportamentos naturalizados que aprendi em família, na escola... Sinto-me mal se ofendo alguém sem querer. Quando ofendo por querer, não sinto nada, mas aí não é preconceito, é revanche. Eu me policio para não falar ou agir de forma preconceituosa e isso requer uma energia danada, mas vale a pena. Só quem é vítima de preconceitos sabe o quanto isso é desnecessariamente cruel e é uma luta diária sobreviver a esses ataques.

7. Já me chamaram de fria e sem sentimentos mais de uma vez, já me chamaram de louca e exagerada algumas vezes e eles tinham razão. Sinto demais ou não sinto nada. Com a mesma facilidade que me apaixono, desapaixono, às vezes - literalmente - do dia pra noite. Não acredito em relacionamentos amorosos que durem pra sempre assim como não acredito em fadas, elfos, no curupira, na mula sem cabeça, em deus, etc etc etc, mas você pode ficar à vontade para acreditar em qualquer coisa que te faça feliz seja do reino animal, mineral, vegetal ou sobrenatural, ou mesmo para depositar todas as suas fichas num relacionamento, só não espere que eu faça o mesmo. Vivo nesses altos e baixos dos sentimentos e sou viciada em paixões, infelizmente só me apaixono por homens criativos, que escrevem, desenham, sei lá, os que conversam comigo e me dão vontade de ouvir por horas o que eles têm a dizer sobre suas paixões ligadas à Literatura ou às Artes Plásticas, Música, Cinema... Isso tem me deixado um tanto quanto apreensiva porque tenho me apaixonado com cada vez menos frequência já que tenho conhecido cada vez menos pessoas apaixonantes.   

8. Meu sonho: nunca mais ninguém me dizer que não tenho vontade de parir porque "ainda não encontrei o homem certo", "quando eu amar, vou querer dar um filho a ele", "uma mulher só é completa quando tem filho" e, como se essas asneiras não fossem suficientes, agora começaram com "quem não gosta de bicho e de criança não é confiável, não tem bom caráter". Eu não gosto de bicho nenhum porque como alguns e vou comer até deixar de me interessar por isso. Não gosto de adultos de modo geral, por quê, diabos, eu deveria gostar de qualquer criança?! Eu, hein! Sim, eu gosto de analisar tudo, especialmente esses comportamentos tidos como naturais e que tantas pessoas adoram pensar que todo mundo TEM QUE ser assim. Se eu fizesse o que a maior parte das pessoas fazem, seria outra pessoa, não esta Verônica aqui. Não, não quero nenhum bichinho de estimação porque não quero possuir nenhuma vida e, pelo mesmo motivo, não quero ter filh@. Quem quiser que tenha, ouxi!

9. Eu amo meu nome.

10. Eu amo poucas pessoas, algumas pessoas da minha família e algumas amigas e amigos. O restante eu gosto muito, admiro, respeito, mas para estas outras eu não me imagino fazendo coisas como cuidando em caso de doença. Sei que amei alguns homens por algum tempo (se, pra você, amor não acaba nunca, que bom pra você, volte ao item 7 e permaneça nele até a próxima rodada!). Todos foram importantes na minha vida. Todos, de alguma maneira, me encantaram de tal forma que deixaram marcas positivas em mim e quando eu disse que os amava, era o que eu sentia no momento em que disse. Aprendi muito com eles, inclusive com os que não me amaram. Mas aprendi mais com o primeiro que me amou, com quem perdi a virgindade e - muito mais importante! - perdi o medo de ser feliz mais frequentemente.

11.  Tenho memória curtíssima e não enxergo bem, apesar de ter feito cirurgia pra corrigir a miopia. Imagino que é porque eu passei tanto tempo não vendo direito que é mais confortável continuar assim. A memória eu não sei explicar, só mas é uma desvantagem e tanto na maior parte do tempo. Sinto que está piorando com o tempo e tenho medo de ser uma desmemoriada em breve. tenho medo de Alzheimer. Acredito que a Loucura é uma prisão terrível para quem está fora dela e não quero ser um fardo pra ninguém.

12.  Tenho medo da morte. Tenho horror à morte!!! Penso nela constantemente, e, de uns anos pra cá, com bem menos entusiasmo. Aliás, quanto mais eu gosto da minha vida de hoje em dia, mais eu tenho horror à morte e mais eu fico sem chão quando preciso lidar com ela. Queria que as pessoas vivessem mais de cem anos pra garantir que nunca mais eu teria que lidar com uma perda. E, quando chegar minha vez, quero ser cremada e ter as minhas cinzas espalhadas em qualquer lugar bonito onde ninguém vá acender velas ou chorar por mim. Tenho horror em pensar que vai sobrar qualquer coisa material do meu corpo neste mundo. Horror!!!

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Crazy on You

Do que são feitos os desejos? Que estalo da (in)consciência os traz a tona? Qual é sua matéria-prima, sua carne, seu esqueleto?

Ele me escreveu, disse-me que dele me servisse. Eu tive que conferir meu corpo atentamente para verificar que o calor que senti me queimando a pele de dentro pra fora não havia saído, não, não havia chamas. Combustão espontânea, apareceria nos tabloides. Eu, carbonizada pelo meu desejo dele. Palavras. Palavras incendiárias de um Herege Incendiário.

Aconteceu assim: esse homem cruzou meu caminho e o perturbou de tal maneira que é como se nunca tivesse havido outra direção a tomar a não ser a dele. Esse Felino é meu Norte agora. Farol que me guia pr'os rochedos, pr'os penhascos e icebergs. Ele é ruína. É perdição. Se eu tivesse uma alma, já estaria perdida...

Cada sorriso uma faísca, uma centelha.
Uma única palavra eriça meus pelos, me põe em chamas.
Meu corpo dói porque o desejo por ele é açoite.

A presença dele está impregnada nos meus olhos e ouvidos. Só penso nele.
O que se há de fazer quando o desejo é assim tão grande e tão sem... sem... Troquei minha sanidade por meia dúzia de seus feijões mágicos, suas palavras. Ele é minha ruína, eu sei, ele sabe. No entanto, poderia haver maior alegria do que essa? Maior contentamento? Mais intensidade na vontade do que esta de me perder nele para ele por ele? Tocá-lo, finalmente. Acabar com toda a espera das minhas mãos e lábios ansiosos? Meu corpo todo anseia. O desejo me dói, crava em mim suas esporas.
Ele me cavalga, o desejo. Sonho com a pele do meu Cigano, deitar-me ao seu lado e sentir sua respiração, seu hálito dissolvido no meu. Vontade de sentir seu calor, sentir seu cheiro de homem, sua barba roçando minha pele. Detalhes, sabe? O formato dos olhos dele, a textura das mãos, o gosto do suor. É isso o que me mata lentamente de desejo, imaginar cada detalhe de seu corpo. É um prazer perigoso o de se sonhar alguém. A carne se fez Verbo e Sonho. Vontade de mordê-lo...

Aaaiii, enlouqueço!
Enlouqueço, minhas deusas!, por esse homem, esse monumento ao pecado, esse Herege Incendiário!!!

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Selvagem

Você é uma ideia apaixonante
um grande perigo que espreita
sorriso luminoso encobrindo o buraco negro para onde tudo converge
e onde tudo encontra seu fim

Você sabe, eu sei.

A gazela e o leão
Pois sirva-se
Você, selvagem
Eu, indefesa, desarmada, entregue...
Não é sacrifício saltar deste penhasco
é um prazer.

Prazer.

Cada parte do seu corpo que existe nos meus pensamentos,
é um prazer.
Enquanto me masturbo com os olhos em você,
é um prazer.

Sei que nada há de ser como eu desejo porque você é uma fera,
é livre, não tem amarras, não terá amarras
você é lindo assim, livre.
Se desejo fazer dos meus braços uma prisão, é porque sei que você transborda
você flutua
você voa
você é o que deseja ser.
Não fosse assim, arredio, não seria apaixonante.

Você é uma ideia.
Você não existe.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

The L Word

Ah, esses homens que sorriem... falam sorrindo e com os dentes à mostra mastigam - sorrindo - meu coraçãozinho, minh'alma, meu juízo.
Ele é assim, todo sorrisos, todo atenção. Um desses homens que você sabe que só vai te lascar, mas você resiste a aquele sorriso? Resiste nada! Você olha para aquela boca carnuda, aqueles olhos de lince, e, você ri, você sorri. Deveria correr, não corre, sorri. Não, não se trata de canalhice, trata-se de mundos diferentes - peixes e pássaros. Estamos em universos distintos que se tocaram por engano, por descuido. Estou lascada, mas e daí? Ele sorri com o corpo todo: é um espetáculo.

Eu estou sendo devorada, gazela indefesa, e sorrio diante desse felino cigano. Olhos e mãos de cigano. Ele me devora sem jamais ter me tocado, fora os abraços excessivamente cordiais, amistosos, que lhe desferi dia desses. A presa correndo direto para o predador, braços abertos, sorrio.

Ele sorri. Eu me sinto embriagada por sua beleza mestiça. Tantas presenças num corpo só. Escrevo e saboreio cada letra de cada palavra. A Carne tornada Verbo. Verbo que é material, concreto, quente. Cada letra de cada palavra ressoa e estala na ponta da língua, no céu da boca. Sonho em compartilhar desse corpo, conhecê-lo profundamente. O homem, esse não será possível conhecer, mas seu corpo, sim. É suficiente que ele continue sorrindo com tudo e eu, dissolvida naquela boca, nos seus todos dentes, incontáveis, infinitos, fantasmas que me perseguem acordada e dormindo, sorrio... Sorria, felino, sorria!

Uma vontade de retrata-lo, desenha-lo, pinta-lo feito santo, mantos brancos sobre sua pele negra, aquela mão cigana linda apontando ao céu como Messias, Mártir da Santa Heresia! Não sei de onde essa vontade, mas quis vê-lo assim, e eu seria a Virgem a segurá-lo no colo, véu negro sobre os cabelos azuis, olhar lânguido como num ícone bizantino. Ele é lindo! Eu substituiria todos os personagens de todas as pinturas renascentistas pela sacrossanta imagem dele.

Ele sorri, eu sonho. Sonho que lavarei seus pés, meu Santinho, São Herege, em bacia da mais fina prata, a água cristalina na temperatura certa de refrescar seus pés caminhadores. Eu lavarei seus pés, meu Santinho, como se lavasse meus pecados: com carinho, com cuidado, e os secarei com meus cabelos. Demorarei todo o tempo que puder acariciando cada dedo, ungiria um por um e haveria amor em cada gesto. Só seus pés, contudo, não seriam suficiente, eu precisaria de mais e mais, do seu corpo todo, cada centímetro de pele e sorriso. Envolveria o seu corpo santo com o meu, seria seu sudário.

Quisera ter sua imagem santa em mim.

Ah, felino, eu comeria seu corpo, hóstia consagrada de tantos prazeres sonhados, e beberia seu sangue, meu vinho. Seu corpo transmutado em meu corpo. Quero tudo, você me dá espera, "tempo do desejo", você disse. Essa é minha penitência, esperar. Penitência horrenda que cumpro preenchendo-a de palavras. Serei digna que entre em minha morada? Que faça da minha boceta pão e vinho? Eu beijaria seus pés e seus olhos para, enfim, purificar minha língua pecadora, meu corpo pecador, lavar minha mente suja.

Só seu esperma há de me purificar.

sábado, 12 de outubro de 2013

The F word

Dá-me um sorriso e serei salva. 
Fiat lux: ele sorriu.
Tudo dorme tranquilamente na noite. Eu dormi, eu sonhei. 
Sonhos coloriram a noite, preencheram a ausência das estrelas...

...
Agora sei que só em sonhos esse sorriso... os sorrisos dele têm outro endereço, não são para mim. 
Viver é um perigo, pois não? 
E, ainda assim, ele ilumina tudo quando ri. 
A Vida tem dessas belezas dolorosas. Cada espinho da rosa... Clichê porque verdade. 
Pois que doa a quem doer, sorriso espinho.

Vale a pena.


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Amor primeiro

Eu o amava e ele, a mim. Bastava-me isso.
Hoje, basta saber que conheci o amor, desfrutei, saboreei o quanto pude porque nunca me passou pela cabeça que pudesse durar para sempre. Nenhum corpo suportaria tamanha euforia para sempre.
Eu morreria se tivesse mais daquela felicidade por mais tempo. 


Foi-se o tempo do amor inocente, acabou-se, contudo, nunca a memória! 
Portanto, perdoem minha insistente solidão e ausência de paixões, mas a aquelas a quem é dado o Amor, jamais o medíocre, o comum satisfará.

domingo, 15 de setembro de 2013

protect me from what I want

meu desejo me assusta mais...

virada a hora mais densa, que há ainda por vir, se tudo o que se sonha já existe,
já existe e nos ancora
pro fundo e mais fundo e mais fundo...

meu desejo me aprisiona naquilo que creio ser eu.
eu desejo logo existo.
pensasse mais e desejasse menos... que Verônica eu seria? qualquer uma menos esta.
e se me deixo afundar pelo desejo, morro nele pra renascer noutro com igual velocidade, porque
é necessário morrer e viver.

sou uma criatura que deseja. eu sou. eu sinto. eu amo pouco e minto muito. muito não, o bastante
para mim e para você que hesita, que cala, que sorri cordialmente,
pra você que se preserva.
boa sorte com isso, baby!


protect me from what I want, Jenny Holzer

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

poesia muda

Agora entendo porque você fala pouco e bebe muito no mundo das minhas medidas porque eu meço tudo.
E quando você fala, é como se construísse um poema verso a verso, mas noutro tempo, noutra língua.
Escuto o que você diz e leio o que você escreve mas não compreendo nada.
As palavras, para mim, tornam-se inúteis então.
Melhor calar, você é quem tem razão.

Poesia muda, poesia cega, disse um artista. Não tenho olhos de ver e nem ouvidos de ouvir...

sábado, 7 de setembro de 2013

Queria conhecê-lo...

_ Vocês se conhecem?
_ Sim, ele é amigo de um amigo. Mas eu queria era conhecê-lo no sentido bíblico.

domingo, 1 de setembro de 2013

Despedida

ele disse que vai embora.
ele veio e foi embora.
disse que voltaria.
eu não espero que volte.
nunca esperei nada dele.
aprendi muito, sou grata.
ele nunca me fez sofrer e me ensinou a não esperar nada.
infelizmente, não há mestre neste mundo que consiga a ensinar a não sentir saudade...
felizmente o pouco tempo que passamos juntos deixou saudade e eu a sinto e guardo como se tivesse nas mãos um passarinho caído do ninho. um dia a saudade voa, bate asas e some no azul. um dia.

então, amado, um brinde à você!
um brinde ao seu recomeço!
um brinde a cada gota de suor que meu corpo bebeu do seu!
um brinde ao carpe diem selado a beijos entre você e eu que estivemos juntos enquanto pudemos e enquanto quisemos!
brindo a você, amado!
brindo à sua partida como brindei à sua chegada!

que nenhuma lágrima se derrame onde tanto gozo foi plantado.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Bebo seu vinho porque não alcanço seus beijos...

domingo, 25 de agosto de 2013

Poeta

Ele é poeta, contudo fala pouco.
Gosto dos silêncios que ele preenche com beijos e risos.
Ele sorri o tempo todo.
Comecei ao contrário com ele, detestando esse sorriso perene porque eu sempre implico com a felicidade alheia.
Agora quando vejo que sorri, sinto um conforto enorme.
Ele fala pouco e lendo seus poemas entendi porquê.
Agora eu fico mais calada também e é bom não precisar dizer nada, nem o óbvio e nem o obscuro.

Agora eu gosto dele porque o conheci pelos sentidos, pelo corpo.
Eu me calo para sentir mais.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Luar

Uma lua cheia, escancarada, daquelas enormes no céu de Agosto em Brasília. Eu a vi por entre os galhos retorcidos da árvore ao lado do ponto de ônibus. Adoro essas árvores torcidas do cerrado com suas cascas de textura crespa, rude. É detalhe que não acaba mais! Sinto um certo conforto nessas árvores, acho-as lindas.
Um casal namorava alegremente à minha frente e eu, graças à árvore e à lua, pude me pôr à salvo de tanta felicidade. Nada contra a felicidade alheia, apenas ela não me diz respeito e, se não me interessa, não me interessa, pensei diluindo a invejinha no céu de brigadeiro.

Ai!, quanta gente num ônibus, meus deuses! Mas havia a janela aberta à minha frente e eu via a cidade em movimento em vez de olhar fixamente para minha própria cara no vidro como as outras pessoas em pé. Eu gosto da cidade passando e passando diante dos meus olhos e escolho as músicas que combinam com a viagem e dou graças aos deuses pelos fones de ouvido porque assim eu posso ignorar toda a conversa e risada e barulho das pessoas - tanta gente, meus deuses, num ônibus só! - e pensar Nele. Ele que tem sido o sorriso por trás da lua cheia que me acompanha até quando me escondo sob os lençóis na cama e mordo o lábio e mal digo minha estupidez e percebo minha falta de esperança nitidamente como se fosse um filme mudo na tv.
Desci do ônibus e olhei a lua me acompanhando até a porta de casa e, ainda que tenhamos nos despedido silenciosamente, ela entrou em casa comigo, comeu e bebeu comigo, tomou banho, escovou os dentes e só não fez as orações comigo ao deitar-se porque sou ateísta. Agora ela não está mais comigo, ela está em mim, girando em seu balé no meu peito. É como ouvir uma caixinha de música muito antiga e como o toque do veludo.

E ele não me deixa dormir não porque tenha roubado meu sossego mas porque me deu em cada sorriso uma desesperança maior e maior que comeu meus sonhos. Por isso não durmo: EleLuar comeu à dentadas meus sonhos.

Com o peito cheio de luar não posso dormir.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Colega


Pois é, Colega, eu não caibo na sua agenda. Eu não caibo nos seus planos. Sou o excesso e a exceção. E tive que te dizer da maneira mais tosca "não quero mais te ver". Mas eu queria. Queria continuar a vê-lo, queria muito e por querer tanto, nesses termos, os seus termos, apenas seus, retiro-me de cena.
Quem me vem com essa conversinha mole de que está sem tempo é porque não quer dizer realmente do que se trata a recusa. Eu trabalho 60 horas semanais e tenho tempo. Só não tenho é paciência.
É fácil querer submeter as pessoas às nossas vontades. No entanto, se responsabilizar ninguém quer.
Eu prefiro é acabar logo com o que ainda nem começou porque, segundo informações suas, Colegas, você só quer ficar e quer ficar indefinidamente enquanto lhe convier. O que eu quero não importa, não interessa, ninguém perguntou.
Então, tudo bem, sentirei sua falta, vou chorar uns dois dias à noite em casa, na minha cama que é lugar quentinho, e depois pronto, passou, podemos até ser amigos numa boa e posso partir pro próximo cara sem tempo...
Pelo visto é mais fácil achar a agulha no palheiro do que um cara com tempo...
Detesto essas desculpas esfarrapadas que as pessoas insistem em contar. E por quê, pra quê? Prefiro logo que me digam a verdade e pronto, vai cada um pro seu lado duma vez! Em vez disso, o banho maria. Em vez da verdade, falta de respeito. Pura falta de consideração. Pensando bem, não vou ficar sua amiga coisíssima nenhuma porque você não merece, Colega. Vou dar minha amizade pra quem é bacana comigo. Pra quem me tem consideração. E fodam-se todos os caras ocupados do mundo!!! Eu tenho tempo pra gastar com quem eu gosto e pronto, nem você nem os anteriores e nem os próximos vão abalar minha fé no Homem Com Tempo, pelo menos não abalarão minha fé mais que uns dois dias e tenho dito!

Agora, com licença porque vou ali chorar um pouco...

24/06/13


 
De tempos em tempos eu caminho sem óculos. Preciso não ver o que me cerca de forma tão fidedigna, preciso estar fora de foco, solta num mundo de borrões, sem rotos, sem olhares. Prefiro as paisagens, pinturas impressionistas ao alcance das minhas mãos. Não toco em nada, não é preciso. Basta não ver.

Gosto da sensação de fluidez, de imprecisão, de fronteiras mescladas. De tempos em tempos me permito não ver o mundo. Aliás, o mundo não, as pessoas no mundo. As pessoas é que me incomodam e eu nem sei porquê. Sou uma pessoa e devo trazer grande incômodo pra muita gente ao meu redor também. Tomara que os incomodados possam tirar os óculos e passar desapercebidos por mim nas ruas de tempos em tempos.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

erva daninha

tão cansada que não consigo dormir...

logo o dia chega metendo o pé na porta, arrombando a mansidão do soninho que acabou de pousar...
a vida como a gente plantou foi crescendo e tomando conta de tudo quanto era sonho. vida erva daninha. 
vida erva daninha.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Limites

Pra você, poemas claros como trepadas matinais, meu amor.
Amor, meu amor imaginado, gozado na solidão destes lençóis
Amor vivido a sós, eu e eu. e você dentro de mim, latejando viscosamente entre meus pensamentos, nas minhas coxas, nas minhas costas.
Sem flores, sem pôr-do-sol, sem despedidas.
Eu e o você que eu sonho.
Imagino...
Fecho os olhos e estamos nós dois aqui.
Sonho que você me deseja de verdade, que seu corpo é meu tapete, meu cobertor, meu trono e que seus olhos me lambem enquanto minha língua... ah, minha língua... tua língua...
Ah, a tua língua, Amor... Só tua língua é meu idioma, meu país! E eu quero ser toda tua fronteira, teus meridianos. Quero você dentro e fora dentro fora dentro fora dentro da minha boceta e fora do meu coração, Amor.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Não quero amar.

Eu o vi. Numa cidade com milhões de habitantes, em pleno carnaval, cercada por milhares de rostos desconhecidos, eu o vi. Ele e seu sorriso inteiro, da cabeça aos pés. Ele e aqueles olhos lindos, nariz, mãos, cabelos.
Meu corpo flutuou naquele sorriso amplo e eu me perdi de novo. Toda vez que o vejo, é assim, essa amplidão nele me sumindo de mim. Fico sem rumo, sem eixo.
Ele me resgata e me afoga e me lava e me arrasta pra longe do sentido que qualquer sentido poderia haver.
A salvação e o degredo.
E o que eu queria, queria não, quero, quero agora no presente porque não existe passado e nem futuro. Não existe nós. Existo eu e existe ele no aqui e agora que acontece apenas no breve momento em que seu sorriso de sol me eclipsa a lua e todos os planetas.
Eu o quero no presente. Desejo agora.  
Não, não tenho a menor pretensão de permanecer em seu futuro, Homem. Você fez promessas de permancer no futuro com outra a qual você jurou amar e respeitar. Não quero ser amada e nem preciso do seu respeito, da sua compreensão. Não me interessam seus medos, suas conquistas, suas frustrações: isso você divida com aquela que ama. Não vim para ser amada, eu quero  apenas satisfazer o meu desejo de presente. Quero cravar os dentes do desejo na sua carne e devora-la, exauri-la. Eu sou assim e é dessa forma brutal que eu o desejo, Homem.
Para mim, o presente, porque sou a outra, aquela que espreita na sombra do esquecimento.
Um dia você será meu, Homem, apenas um dia, não preciso mais que isso. Mentira, sempre hei de querer mais e mais e terei, e consumirei tudo, queimarei cada molécula desejo contigo, sendo o seu corpo o suporte.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

carta de amor

Qualquer pessoa que me conheça minimamente sabe o quanto minha memória é insubordinada, aleatória e - sobretudo - fraca. Por isso tenho tanta dificuldade em de desfazer de coisas; nelas reside minha memória fora de mim. Quando as toco, as lembranças emergem. É uma sensação boa. Eu gosto de lembrar de ocasiões, de pessoas, de sentimentos. Gosto porque é difícil.
E agora, continuando esse exercício de desapego que tenho feito nos últimos dias, brota entre recibos e receitas médicas uma carta de amor que recebi em 2004. O cara nem fala mais comigo, no entanto, a carta está aqui e eu não a jogarei fora porque é preciso que ela me lembre que eu vivi isso. A carta ainda fala comigo. Achei bonita e triste, mas mais bonita que triste. 
A vida muda tudo, e eu preciso que algumas coisas permaneçam inalteradas. Coisas. Cartas, fotos, cartões. As pessoas mudam. Eu mudei. 
As coisas permanecem inalteradas e ao meu alcance e me trazem a memória que escapuliu de mim pra elas.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A segunda vez que o vi...

Ele me perguntou, como desejando que eu me contradissesse, se eu não acreditava em Deus.
Não poderia lhe dizer o que pensei. Algumas coisas eu não digo a um homem que acabei de conhecer, ainda que minha língua esteja roçando a sua.
Se existe um Deus, ele está aqui em você, em mim e entre nós, acima, abaixo e dentro. Onde mais poderia estar Deus senão na ponta desdes dedos, na palma desta mão, nesse sorriso, nessa embriaguês de desejo imenso?
Pensei e calei.
Ai de mim que deixei-me ser toda, completa, num instante, em um toque fugidio. Coração incendiado, inflamado muito mais que os piercings mais recentes. Coração tão inerte se assustou com o sobressalto, o solavanco de um olhar, um sorriso. Ai de mim que perdi meu olhar naquele sorriso... Queria desenhá-lo. Contudo, impossível reproduzir aquele brilho nos olhos, aquele abismo, buraco negro que me engoliu.
Bolhas de sabão voando pelo céu azul, pimenta no acarajé, dançar com os braços levantados. Ele me fez sentir assim e mais. E foi-se embora como chegou. E, de tanto vê-lo pela primeira vez, ontem ele me viu.
Não sei o que é um Deus, mas sei que ele, este homem, é divino. Quisera eu ter seu corpo como morada. um corpo tão frágil... Quisera eu nele habitar, ocupá-lo, preenchê-lo e estar plena. E, ainda que me transbordando nele, vê-lo livre como um passarinho, como ele quer ser, como deveria ser.
Celebro sua beleza, homem, na ponta dos meus dedos, na lembrança, na memória.
Quisera celebrar seu corpo no meu: o mais divino dos atos...

domingo, 6 de janeiro de 2013

Saudade sem serventia

Agora, agorinha mesmo, senti uma saudade dele que nunca havia sentido antes e nunca achei que fosse sentir. Foi uma falta danada como se ele tivesse me deixado um momento antes em vez do término há mais de um ano atrás.
Espero que isso passe logo e eu não sinta mais nada. Sentimento tão ruim essa saudade, essa falta... Uma dor tão agudinha! De que buraco saiu isso?? Credo! Coisa sem serventia!