segunda-feira, 23 de junho de 2008

banho

às vezes a Vida é confusa demais
ou talvez seja eu
deve ser eu...

talvez um dia eu consiga lavar não apenas meus cabelos
mas minhas idéias
tirar todos os resíduos delas
todo e qualquer ruído
deixá-las límpidas como a água que escorre das minhas mãos
talvez um dia eu consiga lavar todos os problemas
todas as dúvidas
todos os infinitos pontos de interrogação
tudo descendo ralo à baixo...
tudo desaparecendo sob meus pés
e no alto da minha cabeça não restará nenhuma dúvida
serei, enfim, livre
e aí voarei
baterei minhas asas
abraçarei a amplidão do céu
um pássaro
um passarinho
rumando pra algum Norte
deixando só meus instintos - não minhas idéias embaralhadas - me guiarem
serei livre
enfim
um dia

sexta-feira, 20 de junho de 2008

surpresa!

às vezes acontece da Vida ser boa...

terça-feira, 17 de junho de 2008

ontem

ontem eu fui menina de novo
rodopiei feito um peão na mão da noite
girei e valsei a noite como se menina fosse
como se fosse a menina que eu nunca fui
feliz rodopiando girando sorrindo
era como um brinquedo novo
eu rodando minha saia imaginária bordada de estrelas...

eu fui menina de novo como jamais fui

mas como tudo se acaba
acabada a folia
acabada a noite
raiado o dia
voltei a ser o que sou como sempre fui
uma menina sem saia nova e nem brinquedo novo
com um passarinho no coração que não voa
aponta para o Norte

acabada a festa
acabada a gira
acabada a roda
acabada a música
acabados os risos
e as estrelas
tudo volta para onde sempre esteve
no mesmo lugar quieto onde nenhum sussurro se imagina
onde bocas jamais se encontram
onde os pássaros vivem presos porque voar é perigoso demais para os corações
onde há o medo
medo que destrói os beijos
medo que congela os abraços
petrifica sorrisos...
eu morro de medo de tudo do mundo do vento da roda do riso do pranto do santo da louca da lua da estrela do beijo da boca dos olhos da saudade da idade da morte da rua do frevo do samba da música do abraço dos dias da poesia da vida

mas eu sei que quando eu fui menina de rodar minha saia rodada
havia lá um menino que me rodopiava
eu era um peão nas mãos da noite que brincou comigo
aí acordei sem beijo sem nem a lua e nem nada...
acho que sonhei um menino
de olhos
e lábios

sonhei...

tudo no mundo se acaba
a noite
a festa
as férias
o carnaval
o coração
a paciência
tudo no mundo se acaba
menos o medo da vida

terça-feira, 10 de junho de 2008

a esta hora?!!!

Eu estava me preparando pra dormir, estava terminando de conferir uma lista dos livros que eu quero e estão esgotados e uma amiga encontrou num sebo de SP pra mim. Estava me convencendo a ir dormir pra não passar o dia de amanhã, como o de hoje, feito um zumbi. Aí o telefone toca. Meu coração pára e, quase, por uma fração de segundos mesmo, eu atendo ao telefone. No canto inferior do monitor o reloginho me avisa que já passa das 23h30. Quem me ligaria a esta hora se não ele? Não atendi. Deixei-o tocar e cada sinal era uma tristeza. Não poderia jamais atender ao telefone a esta hora da noite porque se fosse ele eu não saberia o que dizer. “what can you say when a love affair is over?”
E se não fosse? por que diabos alguém me ligaria a esta hora da noite? que pessoa sem noção e sem propósitos liga quase meia-noite pra residência alheia? acaso não sabe que sou uma proletária que tem que dar duro no batente diariamente e precisa dormir?!
Não atendi. Melhor nem saber quem não era ao telefone.
Agora preciso jogar mais algumas partidas de paciência spider pra acalmar minha cabeçona de mamão e poder dormir. Preciso dormir. Dormir e descansar.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

meu passarinho

Eu tenho um pássaro. É um pássaro pequenino. Ele mora dentro do meu peito. Tem uma gaiolinha aqui dentro. Normalmente a mantenho trancada, é que a Solidão – é o meu passarinho – não gosta de visitas. Sempre que me aparece uma visita ela voa pra dentro da gaiola e fica quietinha lá dentro. Quando eu era pequena não gostava de visitas também, mas minha mãe me obrigava à ir cumprimentá-las na sala... Não faço isso com a Solidão não, eu deixo ela ficar lá escondidinha.
Quando as visitas vão, ela abre a gaiolinha e fica empoleirada no meu ombro direito. Ela não canta não. Ela só fica lá se fazendo notar discretamente, como se fosse parte de mim, como um fio de cabelo revolto que não assenta. Ela suspira. Suspira muito. É uma avezinha suspirante. E me faz companhia sempre que estou só.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

inquietude

Há uma inquietude. É, uma inquietude que me faz querer dormir além dos horários, me faz chegar atrasada aos lugares. Me faz perder a hora. Acho que estou perdida mesmo. Sem rumo nem prumo. Sem salvação.
Não sei porquê sinto-me assim tão freqüentemente. Muito mais freqüentemente do que eu poderia esperar de qualquer sentimento perturbador da minha calma. Não sei porquê esses sentimentos perturbadores têm que ficar aparecendo do nada quando eu menos preciso deles. Não sei se é cíclico ou aleatório. Apenas acontece.
E agora acontece d’eu me sentir assim, inquieta. Ontem estava assim também e fui dormir antes das 22h. Estranhamente cedo pra os meus padrões notívagos. Hoje, já passa de meia-noite, e ainda estou totalmente desperta. Terei que recorrer a algum livro chato pra me dar sono.
Desde ontem sinto-me assim, remoendo alguma coisa nas tripas, como se eu tivesse meu próprio redemoinho interno. Bem nas tripas. Também não sei porque diabos precisamos de tantas vísceras. Detesto vísceras.
Enquanto eu voltava da Cultura, ontem, olhava pra o céu e lembrava d’alguma pintura do Turner que eu não lembro o nome. Porque o céu estava claro, mas havia nuvens cinzas e outras com o fundo vermelho por causa do pôr-do-sol. Adoro nuvens vermelhas e laranjadas. Mas não tinha nuvem laranjada ontem não, só as cinzentas e as com o fundo vermelho. Era bonito de se ver. Sinto falta de andar olhando o céu. Aqui não dá pra ficar olhando pra o céu por causa da quantidade de cocô de cachorro nas calçadas. Os donos malditos dos cachorrinhos nunca pensam nos outros pedestres quando levam seus cachorrinhos pra fazer cocô por aí. Não é culpa dos cachorros, é culpa dos donos e donas que não têm a menor consideração em pelo menos afastar pra grama os cocôs de seus respectivos animais! Aí eu tenho que ficar andando olhando fixamente pras calçadas pra desviar da merda alheia! É foda! Literalmente uma bosta! Perco o céu e a paisagem por causa de merda, é de lascar, né não? Aposto que os putos donos dos cachorros nunca pisam nas merdas, só quem não tem nada a ver com isso.
Enfim, eu pelo menos ontem, pude andar distraidamente olhando pra o céu, mas também olhei pra os dois lados das pistas que atravessei pra não morrer poeticamente atropelada, até nas vias de mão única eu olho, por via das dúvidas. Ainda não descobri a trilha sonora perfeita pra se morrer atropelada. Sempre penso nisso porque sempre ando munida do meu mp3player. Nessa hora em que eu olhava as nuvens e lembrava da pintura do Turner eu ouvia Cat Power.
Fui de metrô à Cultura e nem o fato de ter o bendito do Carrefour no meio com aquele estacionamento xarope me tirou o bom-humor. Nem meus alunos xaropes que apareceram na reposição de aula conseguiram me tirar o bom-humor, e por isso eu saí da escola e fui pegar o livrinho que havia encomendado na semana anterior. Só consegui ler um pedacinho dele enquanto esperava o metrô pra vir pra casa, porque não havia lugares e eu não gosto de ler em pé. Enfim, a R$1,00 não dá pra reclamar.
Enquanto vinha embora, lembrava da época em que trabalhava em Samambaia e pegava metrô quase todo dia. Eu gostava de andar de metrô porque ele sempre estava vazio nos horários em que eu o pegava. E eu podia ler tranqüilamente. E podia olhar bem pra o céu. E ficava conjeturando tanto tanto...
Não sei porquê sou tão divagadora, mas eu acentuo meus porquês só porque gosto do acento no final da palavra. Não todos os porques, só alguns.
Agora tô ouvindo a Norah Jones e pensando que ela deve ser uma ótima trilha sonora pra se dar uns malhos, mas eu não saberei disso na prática, só na teoria.
A inquietude continua, mas espero que ela dissipe-se ao longo da noite que pretendo dormir agora. E pretendo ter sonhos menos estranhos e não dormir mais sobre meu braço porque dói no dia seguinte.

Hoje eu fiz uma coisa bacana, na verdade duas: encontrei uma amiguinha minha de SP e conversamos bastante. Hoje era o último dia dela aqui em Brasília. A outra cosia que fiz foi ter ido a um show “tributo a Pavarotti”. Foi com a Orquestra Camerata Brasil que eu gostei muito. Só realmente não entendi porque diabos eles colocaram esse nome de tributo a Pavarotti. Bem, a Teí conseguiu com um amigo entradas pra área vip, o que significou muito pra mim pois vi tudinho sentada, e ainda ganhei dois bombons na entrada! Sensacional! Só poderia ter sido melhor se não tivesse havido a participação hedionda da Fernanda Abreu e do Andréas Kisser. Achei um equívoco gigantesco! Não teve simplesmente nada a ver a mistura das coisas. Bem, talvez eu seja realmente uma reacionária, mas soou horripilante aquela orquestra tocando e a Fernanda cantando... um desperdício, pra dizer o mínimo. Eu gosto muito dela, das músicas dançantes dela, mas ali ficou totalmente fora de contexto. Ficou feio. Mesma coisa o Andréas. Ele é ótimo no rock’n roll. Com a orquestra ficou deslocado. Detestei. Em compensação, quando o Thiago Arancam (sei o nome das pessoas por causa do folder que entregaram na entrada!) cantou aquele pedacinho de Nessum Dorma, puuutz, fiquei arrepiada! Eu nunca sei o nome dos compositores, troco os nomes das músicas clássicas mais conhecidas, mas eu gosto, soa bem, é agradável. Tenho uma certa sisma com canto lírico, mas ali ficou bonito. Ouvir em casa é que acho meio chato, acabo preferindo só as musiquinhas clássicas instrumentais e até baixei algumas essa semana pra gravar um cd pra levar pra ouvir na escola durante minhas aulas porque como elas são 90% práticas, ou seja, eu falo 10% do tempo e olhe lá, fica aquele vácuo na sala que os aluninhos acabam preenchendo com conversas xaropes ou músicas piores ainda que inventam de cantarolar, não sem ouvir meus protestos. Enfim, preciso de um som portátil pra alegrar minhas tardes no trabalho antes que eu surte qualquer dia desses.
Foi um final de domingo realmente bonito este de hoje, passar ouvindo uma orquestra sentadinha, em lugar aberto. Isso poderia acontecer mais vezes.