domingo, 17 de fevereiro de 2013

Não quero amar.

Eu o vi. Numa cidade com milhões de habitantes, em pleno carnaval, cercada por milhares de rostos desconhecidos, eu o vi. Ele e seu sorriso inteiro, da cabeça aos pés. Ele e aqueles olhos lindos, nariz, mãos, cabelos.
Meu corpo flutuou naquele sorriso amplo e eu me perdi de novo. Toda vez que o vejo, é assim, essa amplidão nele me sumindo de mim. Fico sem rumo, sem eixo.
Ele me resgata e me afoga e me lava e me arrasta pra longe do sentido que qualquer sentido poderia haver.
A salvação e o degredo.
E o que eu queria, queria não, quero, quero agora no presente porque não existe passado e nem futuro. Não existe nós. Existo eu e existe ele no aqui e agora que acontece apenas no breve momento em que seu sorriso de sol me eclipsa a lua e todos os planetas.
Eu o quero no presente. Desejo agora.  
Não, não tenho a menor pretensão de permanecer em seu futuro, Homem. Você fez promessas de permancer no futuro com outra a qual você jurou amar e respeitar. Não quero ser amada e nem preciso do seu respeito, da sua compreensão. Não me interessam seus medos, suas conquistas, suas frustrações: isso você divida com aquela que ama. Não vim para ser amada, eu quero  apenas satisfazer o meu desejo de presente. Quero cravar os dentes do desejo na sua carne e devora-la, exauri-la. Eu sou assim e é dessa forma brutal que eu o desejo, Homem.
Para mim, o presente, porque sou a outra, aquela que espreita na sombra do esquecimento.
Um dia você será meu, Homem, apenas um dia, não preciso mais que isso. Mentira, sempre hei de querer mais e mais e terei, e consumirei tudo, queimarei cada molécula desejo contigo, sendo o seu corpo o suporte.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

carta de amor

Qualquer pessoa que me conheça minimamente sabe o quanto minha memória é insubordinada, aleatória e - sobretudo - fraca. Por isso tenho tanta dificuldade em de desfazer de coisas; nelas reside minha memória fora de mim. Quando as toco, as lembranças emergem. É uma sensação boa. Eu gosto de lembrar de ocasiões, de pessoas, de sentimentos. Gosto porque é difícil.
E agora, continuando esse exercício de desapego que tenho feito nos últimos dias, brota entre recibos e receitas médicas uma carta de amor que recebi em 2004. O cara nem fala mais comigo, no entanto, a carta está aqui e eu não a jogarei fora porque é preciso que ela me lembre que eu vivi isso. A carta ainda fala comigo. Achei bonita e triste, mas mais bonita que triste. 
A vida muda tudo, e eu preciso que algumas coisas permaneçam inalteradas. Coisas. Cartas, fotos, cartões. As pessoas mudam. Eu mudei. 
As coisas permanecem inalteradas e ao meu alcance e me trazem a memória que escapuliu de mim pra elas.