domingo, 25 de abril de 2010

Ali...

O Amor veio e me tomou de assalto.

Ali, logo ali, na esquina do mundo, mora um homem. Ele me sorriu um dia, com seus lábios perfeitos, com seu sorriso perfeito e, por trás dele, a aurora. O sol nascia enquanto ele me sorriu sonolento. Pronto! Enquanto eu sorria com todos os meus dentes e por todos os meus poros, entre os cascalhos do meu peito brotou essa flor, essa orquídea pequenina: Amor. Pronto! Logo ali, logo ali no meu peito aquela flor! Tanta delicadeza que só podia vir à tona naquela luz, naquele raiar do dia, diante daquele sorriso que eu já havia visto tantas vezes.

Essa flor tão pequenina pesa feito uma tonelada. Por isso tem que ser colhida pela mão da pessoa que a fez nascer ali. Quando a colhem, brotam muitas outras, o peito não fica vazio. Quando não a colhem, como todas as outras coisas vivas, morre aos pouquinhos definhando silenciosamente. Só quem a carrega é que sabe das tristezas do seu pesar e lhe sente o peso. Um dia ela murcha, seca, morre. Pode ser a última flor se o peito for um deserto e não há nada mais triste que um deserto no lugar do coração.

Sei que o meu Amor vai murchar e morrer sem ser colhido, mas há de servir de adubo pra próxima flor. Meu coração não é um deserto. Entre essas rochas nascem rosas, lírios, girassóis, orquídeas e inspiração.

E se o Amor me escapa pelos dedos, me faz cativa. Eu não fujo, me sujeito. Porque o sorriso que me trouxe aos olhos a aurora de outro país, outro continente, outro mundo!, me preenche o peito outrora vazio. E se das mãos aquele homem me escapa, na imaginação me acalenta, é meu Deus ex Machina: apareceu pra salvar minha vida do tédio. Não vai me consertar a história, não é um herói. Eu não preciso de quem endireite minha estrada. Não preciso ser salva (só de mim mesma às vezes...). Eu quero é alguém pra bagunçar o coreto, me tirar do sério, me tirar do prumo, me dar outras direções. E o homem de logo ali veio e fez isso. Veio só pra me dar aquele sorriso e sumir no mundo que é seu e eu não alcanço. Um mundo que eu nem sequer visito. Deus ex machina é você ali, logo ali noutro ponto do mundo. Contudo, sua existência ali é sua existência aqui em mim.