domingo, 23 de setembro de 2007

domingos

Realmente tem alguma coisa muito estranha acontecendo no meu organismo... nos últimos finais de semana, apesar de ter tempo de sobra pra dormir, acordei cedo. Hoje, tive um daqueles sonhos “cinematográficos”, no qual até apareceu uma das mulherzinhas do Melrose, aquela loira que é mulher do Jim no Acording to Jim. Estávamos numa floresta e tinha muita criança junto e só adultos bonitinhos, brancos e loiros, daí ser totalmente hollywoodiano... Putz, como esses filmes influenciam minha vida... afff, até meus sonhos seguem essa estética cocô. Uma bosta, mas, enfim, na verdade essa era uma segunda parte do sonho, lembrei agora porque fui parar nessa bendita floresta e porque haviam tantas crianças: eu estava dando aula num dia depois do feriado e não estava com a menor vontade de fazer absolutamente nada, queria levar as crianças pra fazer recreação na parte da frente da escola, mas chegando lá estava lotada como nunca vi, como se as crianças de todas as escolas tributárias estivessem lá (isso sozinho já seria um pesadelo, aliás). Aí eu me vi com as crianças no que seria os fundos da escola, que parecia uma chácara, com uma espécie de cabana caindo aos pedaços e muitas árvores altas e aí aparecem esses adultos branquelos não sei de onde. De repente, não mais que de repente, estava eu conversando com o cara mais bacana de lá, que parecia ser um monitor ou sei lá o que, quando ele me diz que tem um tigre espreitando as crianças. Aí fudeu, foi um bafafá geral, uma adrenalina escrota correndo nas minhas veias e na de todo mundo que tava lá, e nós fomos levando as crianças pra dentro da cabana, e adivinha quem ficou por último? O cara bacana. Quando ele e o tigre estavam muito próximos, mas havia chance dele entrar na casa, surgiu do nada uma loira escandalosa que, gritando o nome dele, o distraiu e o tigre pulou em cima dele e o estraçalhou. Eu fiquei com vontade de empurrar a loira pra junto do tigre, mas o povo da cabana a puxou pra dentro. Depois uma das criancinhas quase sai da cabana e vai parar no estômago no tigre, mas a loira do Melrose que era mãe dela, a salva. Depois disso não teve mais muita ação no sonho não, foi mais a gente planejando o que fazer diante de um novo ataque e coisas do gênero porque estávamos presos ali.

Acordei indignada por ter um sonho tão besta e por ser tão cedo. Lembrei da época em que era acordada cedo aos domingos pra ir pra missa. Já não bastava acordar cedo de segunda à sexta pra ir à escola, ainda tinha que acordar cedo aos sábados pra ir ao bendito ensaio de canto e no domingo pra ir à missa. Como eu detestava ir à missa. E ir ao ensaio de canto. E à catequese que era durante a semana de tarde. Nos finais de semana eu queria era passar o tempo no sodeso, o clube lá pertinho de casa. Queria era ficar brincando na piscina. Mas não, piscina e clube só depois da missa. Quanto tempo perdido, meu Deus, eu dizia pra mim mesma, morrendo de medo de Deus, é claro. Tem mais de vinte anos isso. Deuses, agora minhas referências são datas em décadas, não mais em anos ou meses! Vinte anos! Mais de vinte anos! Ser balzaquiana tem dessas...

Outra coisa que me revoltava – silenciosamente, claro, por que com quem eu falaria esse tipo de coisa? minha mãe? meu irmão que estava prestes a ir ao seminário? minhas amiguinhas que morriam de medo de ir pra o inferno? I don’t think so. Esse tipo de pensamento numa criança de nove anos fica só pra ela mesma – era a tal “coroação de Maria” da qual participei acho que duas vezes. Era humilhante ficar lá escondida atrás das belas e graciosas filhas dos mais proeminentes membros da congregação. Eu sabia que, parecendo um menino com aquele cabelo tosado não ficaria nunca na frente. Acho que só consegui cantar uma frase uma das vezes porque meu irmão-futuro-padre deve ter pedido como favor pessoal à senhora que nos ensaiava. Mas mesmo assim eu dizia minha parte lá do fundo. Duas meninas sempre coroavam Maria, uma loira e outra morena, ambas com enormes cachos caprichosamente feitos para aquela ocasião. Eram sempre as mesmas duas todo ano. E eu, com minha cara de menino, que tinha só medo de Deus, que detestava ir às missas ao invés de ir ao clube, ficava ali assistindo àquele freakshow de preconceitos, disputa financeira e política. Tem mais de vinte anos isso. Felizmente algumas coisas mudaram na minha vida. Não sou suficientemente feminina para os padrões mas isso agora é intencional. Agora eu uso cuecas boxer porque quero. Agora eu não vou nem à igreja e nem tampouco à clubes: ambos me provocam imenso mal-estar. Só apareço em igrejas em cerimônias muito específicas como casamentos e batizados de sobrinhos. Inclusive já até fui madrinha de casamento e sou madrinha de uma das minhas sobrinhas. Quem diria, né? Quem diria...

Agora vou tomar acordar de fato pra ir à casa do meu pai passar mais um domingo em família. Agora passo domingos em família por vontade própria também; como alguns vegetais além de batata frita e milho em forma de pamonha; arrumo minhas gavetas; tomo banho sem ser mandada, bem como escovo os dentes depois das refeições. Coisas bizarras acontecem na vida da gente :>

Aliás, uma das melhoras coisas de me tornar uma adulta independente foi poder deixar pra trás todo elenco de ensinamentos pra higiene e saúde física, mental, moral e religiosa que eram grandes baboseiras e escolher alguns bacanas e com fundamento pra continuar seguindo. É muito ruim fazer coisas só por medo de apanhar ou ir pra o inferno... Ok, ainda deixo de fazer algumas coisas por medo de apanhar, mas, enfim, vocês entenderam....