quinta-feira, 20 de novembro de 2008

um copo de cólera

Comecei a ler outro livro hoje. Não, eu ainda não terminei de ler os outros tantos que havia começado antes, mas é que eu precisava começar este. Eu estou querendo lê-lo há séculos: um copo de cólera, do Raduan Nassar, o mesmo de lavoura arcaica, meu livro favorito! Eu nunca achava esse bendito pra comprar, mas como eu soube que ele só escreveu esses dois livros e um outro chamado menina à caminho, agora que sou uma adepta do estantevirtual, o encomendei esta semana e ele chegou hoje e aí eu precisava lê-lo. Ah, a compra foi uma bagatela, assim como o menina à caminho que – espero eu – chegue amanhã às minhas mãos. Ele é um livro fininho e pequeno e está com a capa velhinha, mas o que me importa é o conteúdo, o que me obriga a fazer analogias dele com os homens em geral, que costumam me prender mais pelo conteúdo perturbador do que pela aparência. Não que eu tenha algo contra livros novinhos, capa-dura, letras douradas and stuff, ou contra homens igualmente bonitos como livros novos e bonitos, mas é que os que não são bonitos e nem atraentes à primeira vista, pelo conteúdo, conseguem me deixar totalmente apaixonada e atordoada.
Ainda não terminei de lê-lo e sinto que terei que relê-lo na seqüência porque ele é foda. Não tão impactante quanto lavoura arcaica, mas é bem denso. E sem pontos. Quer dizer, tem pontos finais ao final de cada capítulo o que me faz ler como se eu estivesse correndo uma maratona. Chego ao final dos capítulos sem fôlego! É ótimo isso! É lindo! É mágico!
Enfim, tive que parar porque as minhas amigas que estavam aqui em casa estudando foram embora e eu precisava fechar a porta e tals e aí resolvi escrever sobre como eu gosto da forma como o Raduan escreve sobre sexo. Adoro! Ele escreve de uma forma que não é nem tão pornográfica e nem tão puritana quanto eu estou acostumada a ler ou a pensar, o que me dá uma perspectiva totalmente diferente do que eu não sei mas imagino. Eu gosto de ouvir homens falando sobre sexo ou então ler o que eles escrevem porque é um lugar no qual eu jamais estarei porque só posso sentir as coisas a partir do meu ponto de vista de mulher, por mais que eu possa tentar imaginar como é... Gosto de ouvir meus amigos falando sobre sexo e gosto de saber como as coisas mais simples podem ser assustadoras ou o contrário: como coisas que são totalmente mitificadas e mistificadas pra mim, são simples pra maioria dos caras ou, pelo menos, pra os caras normais porque eu considero meus amigos normais. Se eles têm alguma tara que eu consideraria anormal (pedofilia, necrofilia, cropofilia, etc...), eles nunca me disseram, so...
Eu tenho pensado muito sobre sexo e suas implicações. Penso, não fantasio. Não sou muito chegada em fantasiar, prefiro viver, experimentar. Fantasia comigo é só o sonho de ganhar na loteria até porque isso é algo que provavelmente não viverei nunca... então dá-lhe fantasia sobre a minha vida de multimilionária da megasena acumulada... O resto eu penso, eu reflito, eu questiono, eu debato, rumino. Inclusive sexo.
Incrível como uma coisa tão básica na natureza humana pode ter conotações tão diversas da sua natureza fundamentalmente fisiológica, especialmente quando se trata da sexualidade feminina... Nossa, isso dá tanto pano pra manga que eu fico com preguiça até de começar a escrever aqui, até porque meus pontos de vista são absolutamente pragmáticos neste sentido: eu não sei sobre as outras mulheres, mas eu preciso de sexo. Ponto. É uma necessidade tão primordial quanto qualquer outra que envolve auto-conhecimento, auto-preservação e uma boa dosagem de auto-destruição. É como usar drogas, em suma. E eu sou adepta delas, claro. Eu bebo socialmente = álcool é droga. Eu tomo altas doses de cafeína seja em café, em chás ou nos chocolates que eu faço questão absoluta de ingerir. Bem, eu não fumo, mas é que cigarro é estúpido e faz as pessoas parecem mais estúpidas que álcool, na minha opinião, e quem fuma fica o tempo inteiro fumando, quem bebe, não necessariamente. Enfim, o meu ponto é, a humanidade usa substâncias pra sair de seu estado “normal” de consciência desde desde e, pra mim, isso é tão necessário quanto o prazer que o sexo oferece e pode ser tão perigoso quanto. Isso tudo me leva a crer que eu deveria ter continuado virgem porque aí nem saberia sobre como é sentir vontade de algo que precisa – na minha opinião – necessariamente do consentimento & envolvimento/participação de outra pessoa. Esta parte, aliás, é a pior de todas no que diz respeito à sexo. Nem sempre eu tenho um homem disponível pra mim. Quão frustrante... ainda não aderi à política de pagar por sexo, o que eu considero uma coisa bem aceitável no "universo masculino" e que deveria ser mais amplamente difundido no "universo feminino", o que diabos seja lá que isso signifique. E também não estou tentando esmiuçar todas as questões sociais por trás do fenômeno da prostituição, eu só estou dizendo que, às vezes, é bem mais simples (= melhor) você manter uma relação estritamente financeira/profissional com alguém do que ter que se afundar em afetividade pra se conseguir sexo. Sexo é só sexo, poxa vida. Tudo o mais foi um tanto de coisas que nós penduramos nele! Deveria ser muito mais simples. As pessoas deveriam poder ser mais livres no que diz respeito ao uso de suas genitálias. As pessoas deveriam se encontrar, trepar e pronto, depois cada um vai pra sua casa, a não ser que as pessoas realmente quisessem passar mais tempo juntas e fazer outras coisas fofas que casais fazem ou até mesmo procriar. Mas não deveria haver tanta imposição tanto freio tanto cerceamento tantas normas sociais e tanto bafafá em torno de algo tão simples entre adultos, que isso fique bem claro que estou falando de adultos no poder de suas faculdades mentais. Sexo é coisa pra adulto responsável por seus atos, não é pra adolescentes o que deve soar extremamente reacionário, mas é o que penso até porque é verdadeiramente deprimente ver garotas do ensino fundamental irem pra escola com seus barrigões precoces e suas vidas semi-arruinadas pela irresponsabilidade.
Talvez essa minha estória de liberdade e sexo seja revolucionário demais pra nós humanos no estágio em que nos encontramos... Enfim, vou é terminar de ler meu livro antes que eu fique deprimida pensando em todas as coisas que eu deveria poder fazer sem ser taxada de marginal perante a sociedade que tanto me oprimi e reprimi mesmo nas minhas necessidades mais básicas até chegar ao ponto de me fazer questionar a respeito do que diabos vem a ser a minha dita humanidade e civilidade...