sábado, 16 de agosto de 2008

viver...

Tenho gasto muito dinheiro em dvd's nas lojas americanas.
Tenho feito planos milaborantes de viagens que provavelmente não realizarei.

Hoje sonhei que cortava meu pescoço com um caco de vidro e sangrava lentamente porque acreditei que morreria junto com o cara que, no sonho, era meu grande amor e que me convenceu a tomar a dianteira. No sonho, enquanto eu sangrava e ia ficando mais difícil manter os olhos abertos, ele se levantava e saia vivinho da silva.

Ontem eu caminhei prestando atenção nos cheiros da rua entre o ponto de ônibus no qual desci e a minha casa. Achei todos tão bons! o vento soprando as árvores que estão ficando peladas, cheiro de comida ficando pronta, arroz, carne, consegui até perceber distintamente o cheiro de lingüiça toscana frita, como a que eu costumava comer tão freqüentemente na casa dos meus pais. Engraçado como alguns cheiros ficam mesmo sendo tão desimportantes, e outros tão preciosos somem, desaparecem. Não me lembro do cheiro dele. Lembro que eu gostava do cheiro dele, mas não me lembro mais como era. Não lembro qual era...

Noutro dia eu mal consegui falar uma frase inteira sem me esforçar pra lembrar as palavras que queria usar.

Talvez eu morra logo. Ando sentindo uma necessidade cruel, uma urgência petrificante de deixar as coisas em ordem. Não sei porque me sinto assim. Talvez não seja a morte, talvez seja Alzheimer.

Semana passada um cara me cumprimentou com um oi tão amistoso que eu retribuí de imediato, mas no segundo seguinte eu me dei conta de que não o conhecia, então me virei pra o atendente e agradeci pela água que ele me trazia e saí dali sem saber se eu conhecia ou não o tal cara. Me senti envergonhada por não saber se o conhecia ou não. As pessoas não costumam simplesmente me cumprimentar. Tem gente que é até descarado o bastante pra puxar conversa comigo do nada – ainda que eu esteja usando fones de ouvido – mas nunca nenhum desconhecido me cumprimenta. Eu acho. Não consigo realmente me lembrar se me cumprimentam ou não. Alzheimer.

Agora estou tomando vitaminas. Espero que minha memória melhore. E espero parar de chorar em situações que não tem nada de tristes. Ando chorando até vendo comédias. Não comédias românticas. Comédias comédias. Noutro dia chorei vendo “mudança de hábito”...

Amanhã pretendo testar uma argila pra pele. Preciso fazer algo pra me distrair da minha cabeça. Preciso concentrar-me no meu corpo então. Whatever. Qualquer coisa que me faça sentir menos sentimental. Detesto estar sensível assim, me sentindo vulnerável, uma vidraça se oferecendo a pedradas. Detesto isso. E tenho pensado em aderir a uma religião só porque agora dei até pra ter medo do que vem – ou não vem – depois da morte. Antes eu achava que as pessoas inventavam deuses pra não se sentirem sozinhas, mas agora acho que é pra que possam lidar com o fato de que esta vida vai acabar, então é bom imaginar que haverá mais alguma coisa, uma continuidade. Mas, sei lá, eu tenho gostado dessa vida aqui do jeito como ela está nos últimos anos, apesar de todos os pesares. Eu realmente não gostaria de sair de cena agora. Eu gosto de chegar em casa e comer comida industrializada e depois tomar sorvete e ver filmes. É bom poder deitar na cama que eu mesma comprei com o dinheiro do meu trabalho. É bom saber que eu ando de ônibus e que meus pais não me deram carro nem apartamento. Eu não brinco de casinha, eu sou independente de verdade, e isso é bom porque foi assim que eu escolhi viver. E é por isso que, embora longe do cara que eu gosto, frustrada com as decepções no trabalho, e vendo gente que eu amo sofrer porque a vida é dura pra caralho, eu quero viver ainda. Eu quero poder viver. E gostaria muito que essa decisão competisse exclusivamente a mim e não à violência urbana, às doenças infecto-contagiosas, crônico-degenerativas, ameaças de guerras mundiais, etc. Queria poder escolher viver e viver. Só isso.