domingo, 2 de agosto de 2009

a flor

Eu gosto de vir à São Paulo. Gosto de ser uma completa desconhecida às pessoas e à cidade. Gosto de passar desapercebida, de ser anônima, de me sentir pequena diante desta cidade tão grande. Não ser familiar a ninguém em nenhuma parte desta cidade. Eu a reconheço mas ela não me reconhece, não dialoga comigo. Nós não nos identificamos. Não nos amamos.
Eu gosto de São Paulo e, quando estou em Brasília, sinto saudade daqui como se isso fosse uma pessoa que eu quisesse muito abraçar. E agora, no inverno, passeando de dia pelas ruas, sentindo esse frio da porra, eu gosto mais ainda daqui. O céu cinza nublado, o vento frio e cortante, são o carinho desta cidade por mim.

Outro dia, indo da Paulista pra Augusta, passei por um prédio e vi umas flores lindas no seu jardim e o movimento delas em direção às grades pretas, uma tentativa de se libertarem, eu pensei, de sair do jardinzinho do prédio e invadir as ruas e aí meu pensamento vôo de volta pro sonho quando eu vi, encostado no muro deste mesmo prédio um mendigo no seu cobertor cinza. Talvez fosse pra ele que a flor estivesse se inclinando. Se ela pudesse se desprender do chão do canteiro e passar por entre as barras, talvez fosse pousar naquela palma estendida que todos os passantes, inclusive eu, tentavam ignorar.


Originalmente escrito em 20.07.09