segunda-feira, 7 de julho de 2008

domingo sem futuro

confusa
muito confusa

escutando Los Hermanos e comendo chocolates sem parar
pensando que eu deveria querer ficar sozinha neste momento
pensando em como eu deveria ficar feliz por estar sozinha agora
mas não estou

será que eu sou só mais um ser humano? uma daquelas pessoas que precisam de outras ao lado? quando foi que eu fui assim? quando? em que momento isso aconteceu?
quando foi que aconteceu d'eu me tornar uma pessoa que sente falta de abraços? não qualquer abraço, um determinado abraço
quando foi que aconteceu d'eu sentir essa saudade tão inesperada?
em que momento essa porta se abriu?
quando foi que eu deixei que ele entrasse e se alojasse aqui como se nunca tivesse ido embora
como se estivesse estado sempre aqui comigo?
essas coisas não acontecem assim gratuitamente
ou acontecem?

por que as coisas estão sempre me acontecendo à minha revelia? quando é que vai caber à mim decidir? quando poderei dizer sim e não e os sentimentos vão - finalmente - me obedecer?
quando eu poderei decidir de quem gostar e como gostarei?
quando eu poderei mandar na saudade
nas expectativas
na solidão
na angústia
na frustração
na esperança
no medo
na paixão
quando?

eu quero ter controle.
preciso controlar alguma coisa, então por que não a mim mesma?
detesto ficar assim andando a ermo
correndo em círculos ao redor de mim
não sei porque é tão difícil admitir certas coisas
porque eu choro e mudo de assunto
porque eu não quero me abrir
porque permaneço sempre com um pé atrás
é difícil reagir
muito difícil sorrir contemplando o abismo
o grande abismo
o maior abismo
o futuro

talvez se ele estivesse aqui e segurasse minha mão...
ele! sempre ele!
ele imaginário que preenche meus sonhos
que jamais existiu em carne e osso
que pode ser todos e é nenhum
que nunca me viu
que me espreita em todas as esquinas, olha de lado como o meu futuro pra mim
ele que não é ninguém
ele que é o amor que não chega
e eu envelhecendo só
os cabelos branqueando
a pele perdendo o viço
os olhos perdendo o eixo, perdendo o brilho
o coração tornando-se cada vez mais opaco
os lábios se contraindo em eterna espera
só espera
sem recompensas
acordo cedo
acordo tarde
os dias se alternam
a vida permanece igual
igualzinha
os anos passam
eu envelheço
e a morte ali na esquina
e o futuro é um sonho distante
longínquo
inatingível

por isso eu quero tudo agora já agora mesmo
amanhã não serve mais
amanhã nem sequer existe
o agora existe
só o agora
e agora estou só
levanto-me, desligo as luzes e vou dormir só
porque o futuro não existe pra ninguém.