terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Entre outras coisas...

Dia desses, melhor, noite dessas, talvez quinta-feira, ouvi uns sons esquisitos, como um animal gemendo, sei lá. Coisa bizarra. Fui até o banheiro e acendi a luz; não vi nada. Por via das dúvidas, fechei um cano na parede do banheiro que dá não sei pra onde. Esse cano deveria ser usado acoplado a uma mangueira de máquina de lavar, era pra ser a saída da água, mas minha máquina não funciona desde que vim pra cá. Fiquei com medo de ser um rato. Se eu já odeio com todas as minhas forças os insetos, os roedores então!... nem de hamster eu gosto! iéco! Foi foda dormir nesta noite porque eu fiquei aterrorizada com a idéia de estar dividindo minha casa com um rato. Tentei me manter acordada o quanto pude, mas sucumbi pouco depois das 4h30...

No sábado fui ao supermercado e comprei, entre outras coisas, raticida. Foi uma sensação estranha porque eu nunca tive coragem de ter raticida em casa. Antes eu achava que se tivesse raticida em casa, acabaria levando à cabo um impulso suicida que bate nesses dias em que o Desespero é maior. No entanto eu comprei o raticida e pus lá perto do tal cano vedado mal e porcamente com fita marrom. Eu nem sabia como era um raticida, só tinha conhecimento teórico, melhor dizendo, literário, sobre ele. Raticida e formicida. Sabe-se lá quantas foram as pessoas que passaram desta pra próxima com a ajuda delas. Tem até um compositor, um sambista eu acho – e esqueci o nome do cara! Só pra variar... – que morreu num banco de parque depois de ter tomado formicida com guaraná. Achei lindo isso! As pessoas passavam, criancinhas brincavam, e ele suavemente adormecendo fechava seus olhos cansados do mundo enquanto despertava pra eternidade do Nada. Bem, pelo menos na minha cabeça é assim que eu vejo o cara do formicida com guaraná. Mas deve ser coisa estranha morrer tomando raticida porque eu vi uma vez uma foto que um artista plástico fez – não adianta nem perguntar porque também não lembro o nome desse – de uma pessoa que suicidara-se assim. Ele tirou a foto no necrotério, e só uma das mãos – se não me engano – aparecia; os dedos rígidos, congelados em pleno movimento de desespero e agonia. Dava pra ver, era nítida a Dor daqueles dedos entortados pela morte. Se as mãos estavam assim, numa tristeza deformada que dava mesmo pena, imagina o resto! Não deve ser bonito de se ver.

Em pensar que, há um tempo atrás, eu só não comprei raticida – pra consumo próprio – por falta de dinheiro. Impressionante como as coisas ruins se revestem de um caráter imenso quando estamos mergulhados nelas. Hoje, apesar do pavor de ter um rato como roomate, fico feliz por ainda estar aqui neste planeta caótico cheio de gente imbecil porque não é só de caos e de imbecis que se faz este mundo...

Ah, sei lá. O raticida está lá e eu estou aqui, então acho que as coisas estão bem. Estou cansada, mas é do trabalho, não de viver. Ainda quero ficar aqui um bom tempo; nem terminei de ver a 4ª temporada de 4400! :>

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No trabalho tivemos mais uma discussão sobre o aborto. Não importam os argumentos, ninguém nunca poderá me convencer de que se trata de outra coisa além das mulheres decidirem sobre seus próprios corpos. Sinceramente, não me interessa o destino dos fetos, não me interessa a opinião do pai da criança, eu só vejo isso como uma escolha que cabe única e exclusivamente à mulher que carrega esse feto, embrião, ou seja lá qual a denominação científica adotada. Essas discussões me cansam porque não levam ninguém a nada: nem eles mudarão de idéia, nem eu, não importam os argumentos de cada lado porque aborto é o tipo de assunto que não envolve só aspectos científicos ou sociais, envolve religião/religiosidade. Aí fode tudo!

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Uma coisa me passou agora pela cabeça enquanto eu digitava: “tudo passa”. E eu mesma me respondi com uma pergunta “será?”. Dizem que responder com outra pergunta é sinal de idiotice, mas, enfim, para além da minha idiotia, existe o rancor. Não, nem tudo passa. Pensei nisso porque eu continuo não freqüentando a casa de uma das minhas irmãs. Quer dizer, ela mora lá, mas a casa é do marido dela e é por isso que eu não vou e nem irei lá. Já fui convidada a me retirar uma vez; não haverá uma segunda. Sou rancorosa sim. E por mais que eu não fique remoendo a estória toda, de quando em quando, especialmente quando minha irmã me convida pra ir lá, tudo vem à tona. Semana passada ela veio me pedir, com todo o jeitinho do mundo, que passasse o natal lá. Respondi que não, que não iria. Ela: mas você vai passar o natal sozinha? Eu: sim. pra mim é só mais um feriado, eu nem mesmo sou cristã, pra que comemorar natal?

Bem, na verdade eu gosto da idéia de passar mais um dia com a família enchendo a pança de comidas deliciosas e trocando presentes. Mas detesto que isso tenha dia e hora pra acontecer e que seja por um motivo externo (o nascimento de Jesus) e não pela simples vontade da família ficar junto. Detesto mais ainda os papos que acompanham “a festa”: você tem que perdoar fulano, ou hoje você tem que ser uma boa pessoa, e blá-blá-blá... A gente tem que perdoar quem faz por merecer o perdão e não é no bendito dia 25 de dezembro, que é só uma data escolhida por motivos políticos, mas deveria ser um exercício diário, assim como a compaixão, o desprendimento, o tão famoso amor ao próximo... os cristãos deveriam viver 365 dias por ano praticando o cristianismo, e não uma vez por ano o que, na minha opinião, é pura hipocrisia da qual eu não quero participar. Se o livre arbítrio (que eu considero uma contradição no mundo cristão, mas isso fica pra uma próxima noite de insônia) é uma prerrogativa de todo ser humano e eu me considero um ser humano bem legal, diga-se de passagem, farei uso dele e optarei por ficar na minha casinha vendo Dexter (o seriado do serial killer não o desenho animado) e me entupindo de sorvete ou qualquer outra bobagem que me dê na telha no dia.


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Lembrei de outra no trabalho hoje: um colega me chamou de atéia. Eu respondi que não sou exatamente atéia, só não estou preocupada com deus. Ele riu e continuou a conversa sobre as várias religiões dos professores presentes na sala àquele momento.

Eu disse pra mim mesma: tanto faz como tanto fez se existir um, nenhum ou milhões de deuses: quando eu morrer, eu descubro.

Mas não tô com a mínima pressa... :>

Um comentário:

Verônica Lima disse...

o tal compoitor que bebeu formicida com guaraná é o Assis Valente!