terça-feira, 17 de junho de 2008

ontem

ontem eu fui menina de novo
rodopiei feito um peão na mão da noite
girei e valsei a noite como se menina fosse
como se fosse a menina que eu nunca fui
feliz rodopiando girando sorrindo
era como um brinquedo novo
eu rodando minha saia imaginária bordada de estrelas...

eu fui menina de novo como jamais fui

mas como tudo se acaba
acabada a folia
acabada a noite
raiado o dia
voltei a ser o que sou como sempre fui
uma menina sem saia nova e nem brinquedo novo
com um passarinho no coração que não voa
aponta para o Norte

acabada a festa
acabada a gira
acabada a roda
acabada a música
acabados os risos
e as estrelas
tudo volta para onde sempre esteve
no mesmo lugar quieto onde nenhum sussurro se imagina
onde bocas jamais se encontram
onde os pássaros vivem presos porque voar é perigoso demais para os corações
onde há o medo
medo que destrói os beijos
medo que congela os abraços
petrifica sorrisos...
eu morro de medo de tudo do mundo do vento da roda do riso do pranto do santo da louca da lua da estrela do beijo da boca dos olhos da saudade da idade da morte da rua do frevo do samba da música do abraço dos dias da poesia da vida

mas eu sei que quando eu fui menina de rodar minha saia rodada
havia lá um menino que me rodopiava
eu era um peão nas mãos da noite que brincou comigo
aí acordei sem beijo sem nem a lua e nem nada...
acho que sonhei um menino
de olhos
e lábios

sonhei...

tudo no mundo se acaba
a noite
a festa
as férias
o carnaval
o coração
a paciência
tudo no mundo se acaba
menos o medo da vida