sábado, 22 de setembro de 2012

Minha Casa

Tenho sentido menos vontade de sair de casa a cada dia que passa. Entendo a necessidade de trabalhar e trabalho, mas quando volto para minha casa, não quero mais sair. Por quê? Porque a minha casa é o único lugar em que posso ser eu mesma, eu mando e desmando, eu faço e aconteço, ou faço nada e tudo bem também. Viver em sociedade tem vários benefícios, entretanto, a contrapartida não é suave: há que se comportar da maneira certa se não quisermos acabar encarcerados em prisões ou sanatórios por coisas tolas como andar nua, falar sozinha ou dizer impropérios às pessoas em alto e bom som.
Na minha casa, meu lar, meu cafofinho, eu ando nua, falo sozinha, respondo à televisão e ao rádio, converso com minhas plantas enquanto as rego, mando as pessoas irem à merda... enfim, aqui, ando sem medo de ser eu mesma. Por isso não gosto da ideia de morar com outra pessoa; não quero perder meu domínio sobre este espaço, este parco espaço espremido nesta cidade tão opressora quanto qualquer outra, tão cheia de normas sociais quanto qualquer outra. Lá fora é a selva. Aqui, conforto da solidão bem vivida. Estou só e não me sinto sozinha, sinto-me abraçada pela minha liberdade por mais ilusória que seja.
Aqui estou só e sou feliz ou triste, mas estou como estou naquele momento, sem correr pra chorar no banheiro para que ninguém me veja. Aqui estou livre dos olhos e dos dedos em riste, do riso, do escárnio, do julgamento, da indiferença, do abandono, das espectativas. Eu me isolo e fico bem comigo mesma. quando quero socializar, saio e socializo. Aliás, quer mais socialização do que passar todas as tardes de segunda à sábado dando aulas? Aliás, isso é extremo, é limítrofe! chego em casa e dou graças por não precisar ver mais ninguém, falar com mais ninguém. Dar aulas é bom, porém me esgota as vontades de lidar com mais seres humanos.
Este é meu reino, meu domínio e não o troco por nada. Não preciso fazer tal troca.