domingo, 3 de maio de 2009

desabafo pós greve

Pois é, a greve acabou. Eu nem queria ter entrado nela. Foi decisão de última hora a minha adesão. E eu me arrependi de ter aderido. Amargamente.
Sabe aquela sensação que se tem quando alguém que a gente gosta morre? É isso que eu tô sentindo. É uma espécie de sentimento de negação porque eu fico dizendo pra mim mesma isso não aconteceu, não é possível que tenha acontecido assim! e é também muita revolta porque as coisas aconteceram da forma que aconteceram.
O governador não cumpriu a lei. A lei que ele próprio sancionou há dois anos atrás. Foi por isso que eu entrei na greve, porque eu precisava dizer de alguma forma pro governo que eu não concordo com esse caos, com o governo se negando a cumprir uma lei! Não se trata de um cidadão infringindo uma lei, trata-se do governo, quem deveria respeitar as leis e assegurar para que sejam cumpridas! Será que só eu vejo o absurdo nisso?? Putz, eu estou me sentindo solitária e perdida. Muito solitária. Terrivelmente solitária. Eu não quero fazer parte desta categoria. Não quero fazer parte desta sociedade. Quero poder viver realmente à margem disso tudo. Por que, afinal, onde é que vamos parar?? Quando a autoridade democraticamente instituída se recusa a cumprir suas próprias leis, onde é que vamos parar senão na anarquia (no pior dos sentidos), no caos, na barbárie?! E os professores compactuaram. Muitos não aderiram. Viraram as costas para a quebra da lei. Estão muito ocupados cuidando de suas vidinhas. E tem os outros que só entraram pra conseguir uma merda de um aumento. Mal sabem eles que jogaram a pá de cal na sepultura da democracia, do Estado de Direito. E se não sabem é porque fazem de conta que não há implicação nenhuma, nenhuma conseqüência, nenhuma responsabilidade futura pelos seus atos. Apenas colhem o que plantam: a omissão, o dar de ombros... Aí reclamam! Reclamam constantemente dos políticos, do governo, dos bandidos, de tudo o que fere as leis e põe em cheque seu modo de vida. Mas o que, afinal, fazemos pra mudar a situação? Nada. Fazemos de conta que não é conosco, ou então vamos atrás das migalhas.
Estou envergonhada dessa categoria. Muito envergonhada porque dizem que somos formadores de opinião, formamos os cidadãos do futuro. Como é que podemos formar qualquer coisa quando nós mesmos estamos na inércia? Nós somos gado. Cadê a consciência política? Cadê?
Idealismo de minha parte, não. Isso era o mínimo que poderíamos ter feito: nos unido todos em torno da manutenção da lei. Não nos acovardado perante um governo imundo. Do governo eu não esperava nada de bom. Porque sei que ele é corrupto desde antes de assumir o governo desta cidade. Mas dessa categoria eu esperava o mínimo. E agora é o fim da esperança. A morte da esperança.
Eu não tenho mais vontade de ir trabalhar. Sinto-me uma enganadora, uma falsária diante dos meus alunos. Não tenho vontade de falar com meus colegas. Queria poder arranjar logo um outro emprego, um em que eu soubesse qual o meu papel e no qual eu realmente me sentisse importante, digna, útil. Acho que é triste, muito triste ter que me levantar e ir pra um emprego no qual eu não acredito, com o qual eu não me importo mais, para o qual me sinto extremamente desmotivada. Quero sair de lá. Só isso. Sair. Será que eu vou conseguir? Será que terei forças ou acabarei como mais um dos acomodados? Antes eu já queria mudar de profissão, mas os motivos eram outros e eu estava preparada pra agüentar firme durante mais uns dois ou três anos, mas agora. Putz, agora eu queria simplesmente não ter que entrar numa sala de aula de novo. Queria não precisar entrar em uma escola novamente. Seria um alívio. Não quero mais ser professora. Quero esquecer que sou professora, que fui professora. Quero outro emprego. Estou no limite da frustração, do cansaço. Fui vencida não pelo sistema, mas pelos meus pares.
Não sei se por estupidez ou por ignorância tomamos o caminho mais fácil. Só sei que agora abrimos um terrível precedente pra que esse homem vil que temos por governador agora, faça o quiser com as leis dessa cidade. Ele e os próximos, seus colegas sucessores em vilania e corrupção e que sempre chegam ao poder carregados pelos braços do Povo, o povo ignorante que nós educamos à nossa imagem e semelhança.
Parabéns professores por mais uma demonstração de alienação. Que todos nós nos refestelemos com as migalhas recebidas hoje e engulamos o choro pelas conseqüências amanhã.

Um comentário:

Santiago Mourão disse...

Ô louco, situação difícil essa.
O pior é saber onde podemos ser de fato úteis. Pois a merda se espalhou longe, muito longe. E pior ainda, é saber q muita gente gosta da merda.

Mas em algum momento essa situação vai ter q mudar, alguma anarquia (a boa) vai gerar uma reação contrária a essa inércia. Mas fique certa q essa reação não será através dos pequenos burgueses, esses não reagem a bosta alguma. querem mesmo é ficar cheirando peido no conforto de seus belos lares.

E escreva mais. Denuncie os erros desse pequeno feudo. grite para além das paredes da sala de aula. Escrever funciona. Principalmente quando quando se dão nomes aos bois, quando se colocam os identificadores dos processos, das leis descumpridas, datas, marcadores e toda essa burocracia do caralho. Acho q é por aí.

Beijos,
San