quarta-feira, 17 de junho de 2009

prefiro as putas

Qual a diferença entre um cara sair com uma “moça de família” que ele quer comer e que está mais interessada no fato dele ter dinheiro pra bancar tudo e ter carro pra buscar e depois devolver na porta de casa, e sair com uma puta que ele vai pagar pra comer? No final das contas, as duas esperam receber, uma em espécie, a outra em coisas (cinema, jantar, sei lá). Não vejo diferença entre as duas. Só que eu prefiro as putas. Acho que é uma relação mais honesta, mais às claras, onde todo mundo ganha o que quer no final das contas: sexo e dinheiro. Uma transação comercial pura e simples. Se eu fosse homem, preferiria pagar logo pelo tempo da puta comigo do que ter que ficar fazendo joguinho, levando e trazendo, fazendo de conta que me importo só pra poder comer a tal “moça de família” no final das contas.
De onde saiu tudo isso? Da nem um pouco edificante conversa do final do expediente... afff... Tem dias que elas são super engraçadas, as conversas, mas tem outros que... afff... eu preferia ter ficado sem ouvir tanta merda, tanto machismo pronunciado letra por letra da boca de mulheres... é de doer o estômago. Portanto, caso alguma delas venha a ler isso e sinta-se ofendida com a comparação, saiba que eu também me senti ofendida pela conversa sem noção: estamos quites.
Entretanto, como o blog é meu, continuo:
Não consigo entender como é que, em pleno século XXI, eu, uma mulher de 31 anos, com emprego estável, com nível superior completo e acesso a Internet, estabeleceria uma regra financeira como base da minha vida afetiva: só sair com um cara que pague a minha entrada no cinema, o meu lanche ou qualquer outra coisa. Eu não acho isso normal não. Eu não gosto de escambo, não quero trocar sexo por mercadorias. O que eu quero comprar eu compro com o meu dinheiro e isso não inclui o tempo das pessoas, a atenção, o afeto, o carinho delas.
Deve ter algo muito errado comigo por pensar que ter ou não afinidades + a tal da química é que deve me dizer se saio ou não com um camarada. Eu trabalho, eu sou capaz de me sustentar sozinha, de pagar por aquilo que eu consumo. Não espero que ninguém faça isso por mim.
É claro que gentileza eu acho uma coisa ótima, mas ser obrigado a pagar tudo pra uma mulher não me soa gentil, não vejo nada de gentil nisso. Não gosto disso. Uma vez ou outra um cara se oferecer pra pagar sozinho a conta, tudo bem, mas por que eu também não posso me oferecer pra pagar sozinha a conta? Eu não posso ser gentil? ou a minha gentileza está amarrada ao pé da cama?
Sabe quem eu considero que foi super gentil comigo? o carinha totalmente desconhecido que se ofereceu pra trocar de lugar no cinema lotado pra eu poder sentar do lado de uma amiga; o carinha que me cedeu a frente na fila do supermercado ao perceber que eu levava só uma caixa de suco e ele estava com o carrinho cheio de compras; um amigo meu que abre as portas pra todas as mulheres com quem anda passar antes e entrar no carro também; os caras que me deixam passar na frente na hora de entrar no ônibus, etc. Pra mim isso é ser gentil. Eles não esperavam nada de volta além de um “obrigada” da minha parte.
Minhas amigas às vezes pagam coisas pra mim e eu pra elas; entradas de festa, a parte do táxi, sei lá, mas nós somos amigas, elas não esperam nada de mim e eu não espero nada delas além da amizade que umas já damos à outras gratuitamente. Porque nós dividimos nossas vidas, nós compartilhamos bons e maus momentos há séculos e de vez em quando é legal fazer algo por quem a gente ama só porque a gente quer, não porque uma cartilha invisível falou que somos obrigadas a pagar isso ou aquilo.
Enfim, mesmo que eu esteja errada, continuarei preferindo a companhia das pessoas que eu gosto, ou então das que me despertam interesses para além do financeiro (o único homem que eu encontro quando preciso de dinheiro é o gerente da minha agência do banco e ele não me fode, o banco faz isso). Apesar de todos os meus medos e inseguranças, continuo me sentindo perfeitamente apta a pagar pelo que eu usufruo, pelo que consumo. E se não tenho dinheiro pra alguma coisa, eu não espero que ninguém, muito menos um macho provedor, caia do céu pra pagar pra mim. Eu passo, fica pra próxima.

Antes que eu me esqueça: eu não sou adepta do time das mulheres que sustentam homens. Talvez aderisse se tivesse bastante dinheiro, mas não é o meu caso. Sou do time das que preferem andar com caras que trabalham e tem seu próprio dinheiro assim como eu, assim cada um paga a sua parte e todo mundo fica feliz no final.

terça-feira, 16 de junho de 2009

bolhas

Uma cena me acalmou hoje pro dia inteiro.

Eu vinha de uma conversa com a minha paciente orientadora. Ela me fez mudar de idéia e apresentar a monógrafa de conclusão de curso. Minha cabeça ainda estava às voltas com o fato d’eu não saber por onde terminar a bendita mono. E o barulho da rodoviária me perturbando os ouvidos através das minhas músicas favoritas saídas dos meus fones. E a visão sempre deprimente daquele lugar cinza, inóspito, sujo. A rodoviária é o lugar mais feio dessa cidade e ta bem no coração dela. Sabe a ironia disso? É nesse lugar feio, sujo e inóspito que milhares de trabalhadores, estudantes, donas de casa, pessoas de bem passam diariamente junto com alguns meliantes, claro; enquanto isso, nos prédios lindos, limpos e com ar-condicionado do Congresso passeiam a nata da podridão desse país, alguns dos políticos mais imundos desse país, gente que só se interessa em foder o povo sem dó nem piedade. Suponho que devem andar alguns de boa índole, mas esses são a minoria.... Triste, né? Eu tava pensando nisso e mais num bocado de coisas quando vi uma bolha de sabão flutuar na minha frente. Eu sorri pra ela e por mim. Acompanhei seu vôo livre até ela estourar. Daí vi outra e outra em plena rodoviária, na plataforma de espera do 114. era uma coisa linda: uma menininha de costas pra mim, à minha frente, fazendo bolhas de sabão em plena rodoviária suja, inóspita e cinza. Achei lindo. Achei que valia a pena fotografar aquela menininha fazendo bolhas ali, naquela terça-feira tão rotineira, tão boba, tão séria e cheia de preocupações. E as bolhas flutuando graciosamente em direção ao azul do céu do meio-dia. Lindo. A menina estava tão concentrada fazendo suas bolhas umas atrás das outras que nem reparou que iluminou meu dia inteiro.
Tudo durou tão pouco! O ônibus pelo qual esperávamos havia uma eternidade chegou e a menina guardou seu fazedor de bolhas. Mas tudo bem, foram uns três minutos muito bem gastos do tempo dela e das suas bolhas. Salvou minha terça-feira. Amanhã eu não sei o que vai ser, mas hoje eu ganhei meu dia vendo bolhas de sabão voarem pelo céu da rodoviária. Elas calaram todas as minhas preocupações e eu sorri como se eu fosse a menininha fazedora de bolhas.