terça-feira, 3 de maio de 2011

tríptico

não, calma.
não olhe assim essas páginas. tenha paciência e saiba que só assim você pode me ver, só assim você pode me conhecer.
aqui estou nua, dispo-me frase a frase e corro pela cidade.
vulnerável
uma fortaleza
aqui, sou.


Tenho calos nas mãos. O motivo, desconheço. Nunca gostei de trabalho! Nunca nem peguei no pesado! Vivo de brisa. Vivo de nada. Sou de riso frouxo, de festa, da noite.
Estes calos, de onde é que vêm? Quem os pôs aqui nestas mãos?
Foram as tuas, Inês?
Foram as tuas, Inês.
Tu me dás muito trabalho, mulher. Não vales estes calos, mulher.
Vás e bata atrás de ti a porta. Não quero levantar-me da rede.
Leva tudo o que é teu, inclusive os calos. Deixa só um beijo nessa boca que de amor nada sabe, conhece só de vadiagem, Inês.
Não desperdice tuas lágrimas, Inês, guarde-as prum defunto mais aprumado que esse amor que jamais existiu.
Adeus, Inês. Adeus.


Contra toda probabilidade
contra toda espectativa
o Amor chegou e fez de mim sua morada.
Eu, barracão de zinco
logo eu, cheia de goteiras, pintura mal feita
sem portão, sem grades, sem pressa.
o Amor aqui está e mudou tudo sem mudar nada.
Ainda sou eu quem chora e quem ri, porém a alegria é dobrada e os pesares, divididos.
ele chegou, me aqueceu e iluminou.
Se ele se for, ainda serei eu mesma e nada mais será o mesmo porque o Amor não deixa nada em seu lugar quando entra ou sai da nossa vida.
Graças a Deus!!!
Que venham as tempestades
que subam as marés e a neve desça pesadamente
que rolem todas as pedras, sequem os rios, incendeiem as florestas
que sacrifiquem todas as virgens e a lua vermelha jamais se esconda
pois o Amor, terrível e inexorável, chegou e há de ficar.