domingo, 27 de julho de 2008

sexta-feira

devo começar pelas crianças. é, devo começar escrevendo sobre os meninos andando de bicicleta, alegremente, e eu os vendo no curto caminho entre o salão e o ponto de ônibus. tinha meninos soltando pipas também. sempre gostei de pipas e nunca tive nenhuma. talvez um dia eu vá à torre e compre uma pipa e a empine até cansar numa tarde de domingo. nunca farei uma coisa dessas.
engraçado como as coisas nas periferias são diferentes do centro: crianças, meninos pra ser exata porque não vi nenhuma menina brincando na rua, meninos andando de bicicleta e soltando pipas. um vira-latas. um bêbado. no Plano não vejo crianças soltando pipa, nem deve dar por causa das árvores entre os prédios, ou talvez eu é que não fique observando o bastante pra vê-los. de todo jeito, nas periferias tem sempre criança na rua brincando. e vira-latas. e bêbados trôpegos em plena luz do dia. vai saber qual a melhor hora pra se embriagar...
eu estava no Guará. e, sim, tudo o que não é Brasília é periferia. não é um estudo sociológico, é pura geografia mesmo. ou alguém espera ver alguma criança soltando pipa no lago sul no meio da tarde? será que tem gente morando no lago sul, eu me pergunto. sigo caminhando. reparo na grama rala e avermelhada pela falta de chuva. reparo nas calçadas puídas, mas elas ainda estão ali, pelo menos. e há árvores. em Samambaia, por exemplo, é diferente. tem menos árvores, mais crianças nas ruas. calçada então, nem se fale! falta calçada. e eu caminhando e pensando do ponto de ônibus ao salão e, mais tarde, do salão ao ponto de ônibus. fui dar um jeito no cabelo. é mais fácil, muito mais fácil, manter o cabelo liso do que cacheado. não encontrei um salão pra fazer um permamente, mas pra tal escova instantânea tem aos montes! fui naquele porque uma amiga me indicou. e até que era bom mesmo, não só o preço mas o atendimento. a moça que me atendeu, com seu fortíssimo sotque goiano, era simpática e ainda aparou as pontas desgovernadas do meu cabelo sem cobrar nada. e eu saí de lá com os cabelos perfeitamente lisos. deixei as tranças momentaneamente. daqui um tempo eu volto a usaá-las, são muito mais práticas. e eu acho-as bonitas. e acho que combinam mais comigo do qu este cabelinho perfeitamente liso.

tudo parece um cartão postal de algum lugar que eu já visitei um dia.

peguei o primeiro ônibus que vi. olhei pra o número e entrei. só depois de uma boa meia hora é que tive coragem de admitir que havia pego o ônibus errado, quer dizer, ele vinha pra o Plano, mas não sem antes rodar todo o bendito Guará. vi o pôr-do-sol no ônibus. ainda bem que levei meu mp3 comigo. quis escrever, mas só deu pra rabiscar as idéias principais enquanto o ônibus parou na rodoviária de lá. preciso de um bloquinho de anotações. melhor, preciso lembrar de levar meu bloquinho de anotações. mas escrever em ônibus é ruim. escrever num ônibus da viplan é pior. os piores ônibus ever!

me estômago roncava. eu estava morrendo de fome. só havia tomado café, por causa da hora em que acordei, e já fazia muito tempo que estava fora, e ter pego o ônibus errado não foi nada bom pra minha fome. eu estava sem nenhuma barrinha de cereais porque deixei meu estoque no trabalho porque esqueci de trazer pra casa ou então porque eu devo ter ido a algum lugar do trabalho e fiquei com preguiça de levar as caixas comigo quando as comprei. me estômago roncava e isso me deixa puta de raiva porque não gosto de dividir essas intimidades com desconhecidos (veja, caro leitor, como o considero praticamente de casa). se eu que estava ouvindo música podia ouvir meu estômago roncando vez ou outra apesar das minhas inúmeras tentativas de aplacar a fúria das minhas tripas com água, imagina o que não estavam ouvindo os presentes?!

reparei numa coisa no Guará: montes de muros grafitados em homenagem à jesus. achei peculiar. no dia em que eu tiver a oportunidade de ir ao lago sul, vou reparar se alguém tem um muro de casa grafitado em homenagem à jesus. não sei por que as pessoas da periferia tem que demonstrar mais apego à religião do que os outros. isso sim daria um belo estudo sociológico, antropológico e, por que não, geográfico!

comi dois pastéis e um caldo de cana na kingdom. eu ia comer na rodoviária mesmo, mas a presença inconveniente de um velho me cotucando e mostrando uma carteira de identidade enquanto pedia dinheiro me fez mudar de idéia. depois fui às lojas de eletrodomésticos pesquisar preços de máquina de lavar roupas. preciso de uma. decidi que vou remodelar minha casa. preciso de um ambiente mais salutar, mais organizado, preciso de móveis mais adequados, de uma parede colorida, de sofá combinando com a persiana. já que tenho passado a maior parte do meu tempo livre em casa, ela deveria ser mais aconchegante. preciso pensar melhor nisso. preciso ver minhas possibilidades financeiras. bem, terei que pesquisar muito pra fazer um crediário de tudo numa loja só. essa romaria de pagar boleto de loja em loja é uma via crucis que eu não me inflingirei. uma só tá bom.

não estou preparada pra voltar oa trabalho, por isso estou escrevendo até agora... não queria ter que trabalhar pelos próximos seis meses... queria uma licença prêmio de seis meses. começando amanhã.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

SP

pois bem, cheguei hoje de viagem e ainda estou naquela ressaca de viagem. fazia tempo q eu não passava tanto tempo longe da minha casa. sempre sinto falta da minha casa quando eu viajo. não é da casa em si, mas dos objetos nela e da sensação que ela me transmite porque eu gosto de ficar em casa, ainda que ela esteja terrivelmente desorganizada, empoeirada e com um cheiro estranho depois desses mais de 10 dias fechada... eu esqueci de deixar a chave cópia com uma amiga que deveria vir aqui pra deixar o ar circular e molhar minha plantinha que, aliás, tá mais pra lá do que pra cá, coitada.
enfim, retornei ao meu lar doce lar.
e a viagem foi boa, muito bacana mesmo, apesar d'eu ter ficado bastante doente com direito até a conjuntivite... puutz... enfim, nem mesmo uma peça horrenda de teatro que durou 2 horas foi capaz de tirar meu bom-humor em SP. a viagem foi bacana e valeu à pena e eu voltei cheia de idéias pra os meus trabalhos manuais, com o corpo alquebrado de tanto dançar nas baladas, e cheia de fotos na câmera pra descarregar quando estiver com mais paciência pra isso que hoje. hoje não quero fazer porra nenhuma.
hoje vou esquecer todos os sonhos insanos que tive por lá - e foram vários, cada um mais David Lynch que o outro! - e não vomitarei nenhum poeminha - e eu pensei em vários, todos mentirosos e vagos como os meus poeminhas costumam ser - e não lavarei meus cabelos e não cozinharei. ficarei aqui, dependurada na internet vendo e-mails antigos e inúteis porém engraçados, jogando paciência spider, conversando com quem estiver on line no msn e pensando em como a vida poderia ter sempre essas pausas ainda que não seja domingo nem feriado porque eu gosto de me dedicar a não fazer porra nenhuma já que normalmente tenho tanta coisa a fazer...

segunda-feira, 7 de julho de 2008

domingo sem futuro

confusa
muito confusa

escutando Los Hermanos e comendo chocolates sem parar
pensando que eu deveria querer ficar sozinha neste momento
pensando em como eu deveria ficar feliz por estar sozinha agora
mas não estou

será que eu sou só mais um ser humano? uma daquelas pessoas que precisam de outras ao lado? quando foi que eu fui assim? quando? em que momento isso aconteceu?
quando foi que aconteceu d'eu me tornar uma pessoa que sente falta de abraços? não qualquer abraço, um determinado abraço
quando foi que aconteceu d'eu sentir essa saudade tão inesperada?
em que momento essa porta se abriu?
quando foi que eu deixei que ele entrasse e se alojasse aqui como se nunca tivesse ido embora
como se estivesse estado sempre aqui comigo?
essas coisas não acontecem assim gratuitamente
ou acontecem?

por que as coisas estão sempre me acontecendo à minha revelia? quando é que vai caber à mim decidir? quando poderei dizer sim e não e os sentimentos vão - finalmente - me obedecer?
quando eu poderei decidir de quem gostar e como gostarei?
quando eu poderei mandar na saudade
nas expectativas
na solidão
na angústia
na frustração
na esperança
no medo
na paixão
quando?

eu quero ter controle.
preciso controlar alguma coisa, então por que não a mim mesma?
detesto ficar assim andando a ermo
correndo em círculos ao redor de mim
não sei porque é tão difícil admitir certas coisas
porque eu choro e mudo de assunto
porque eu não quero me abrir
porque permaneço sempre com um pé atrás
é difícil reagir
muito difícil sorrir contemplando o abismo
o grande abismo
o maior abismo
o futuro

talvez se ele estivesse aqui e segurasse minha mão...
ele! sempre ele!
ele imaginário que preenche meus sonhos
que jamais existiu em carne e osso
que pode ser todos e é nenhum
que nunca me viu
que me espreita em todas as esquinas, olha de lado como o meu futuro pra mim
ele que não é ninguém
ele que é o amor que não chega
e eu envelhecendo só
os cabelos branqueando
a pele perdendo o viço
os olhos perdendo o eixo, perdendo o brilho
o coração tornando-se cada vez mais opaco
os lábios se contraindo em eterna espera
só espera
sem recompensas
acordo cedo
acordo tarde
os dias se alternam
a vida permanece igual
igualzinha
os anos passam
eu envelheço
e a morte ali na esquina
e o futuro é um sonho distante
longínquo
inatingível

por isso eu quero tudo agora já agora mesmo
amanhã não serve mais
amanhã nem sequer existe
o agora existe
só o agora
e agora estou só
levanto-me, desligo as luzes e vou dormir só
porque o futuro não existe pra ninguém.

sábado, 5 de julho de 2008

esfriar a cabeça...

pois bem, voltei da rua cheia de coisas nos olhos
cheia de idéias pelo corpo
cheia de vontades insaciadas

e pra não fazer ligações de madrugada, chego em casa, escrevo um pouco, me dispo
- ou pelo menos tento fortemente me despir -
de todo desejo que me percorre da ponta dos cabelos à ponta dos dedos das mãos me impulsionando a fazer ligações de madrugada.

e agora tomo um banho

banho frio é o cacete! neste frio da porra??

tomarei um banho quente e demorado. o planeta que me perdoe,
mas é isso ou o arrependimento eterno...
não dá pra querer ouvir uma voz grave às 4h45 da manhã de um sábado
sem depois pagar o preço - bem alto, suponho eu - da imprudência
não telefonarei.
não mandarei e-mail.
nada de scraps.
nem tão pouco mensagens no celular.

vou tomar banho quente e demorado pra afogar as mágoas (que são muitas) e o desejo que insiste em brotar como líquen sobre pedra...

este será um longo final de semana...

quarta-feira, 2 de julho de 2008

dormir sonhar

I wish I could dream my life away...

não sei porque afasto o que desejo
ou porque demoro tanto a dormir
nem porque mordo os lábios sozinha em casa
choro ouvindo músicas idiotas
quero chutar canelas de desconhecidos
incendiar jardins
pisar em borboletas azuis
é algo que me falta
algo que me faz suspirar
e pesa tanto em mim...

mas onde, diabos, eu colocaria tanta beleza nessa alma puída?

melhor é não ter esperança alguma porque assim a gente não se frustra.

um dia eu consigo fazer de conta que realmente nada existe naquela direção pra qual não posso mais olhar. há coisas que não se pode desfazer.
e quando a gente olha pra trás, vira estátua de sal. a gente se dissolve nos próprios medos, na loucura. e é preciso estar são. é preciso ser direito, certo, honesto, reto, lúcido sobretudo. não se pode derrapar nessa avenida. não se pode.

é preciso dormir e sonhar uma outra vida. um outro mundo. porque neste aqui nada é possível. eu prefiro dormir. quisera dormisse e não acordasse mais, pouparia tantos incômodos a mim mesma, tantos constrangimentos. quantas burradas economizadas! um dia eu ainda durmo e não acordo mais. tomara.